

Como contar ao público a história pioneira de Janete,
uma craque em realizar exposições capazes de fazer o
público brasileiro e estrangeiro viajar pelo universo que ela
mais gostava, as raízes do nosso Brasil? Ninguém melhor
do que um de seus filhos – ela teve quatro, Claudia, Lúcia,
Mário e Roberta, todos arquitetos – Mario Costa Santos,
responsável pelo
retrofit
do museu, feito em apenas seis
meses. Ele começou revelando as paredes de pedra da
construção do jeito que a mãe faria: como se fossem char-
mosas ruínas iluminadas. “Inicialmente,
eu tinha pensado em fazer as paredes com uma cor
‘matuta’. Azul-anil, rosa, barro, tons que o matuto gosta
de usar. Só que quando começamos a derrubar, descobri
que eram de pedra, numa mistura de óleo de baleia com
terra e barro, muito usada no século XIX. Não, não vamos
cobrir essas paredes, vamos descascar e revelar todas,
porque eu quero a verdade do museu”, conta Mario.
Iluminador, museógrafo e curador da exposição inaugural
“Janete Costa, um olhar”, desde que o museu foi aberto
em novembro de 2012, Mario tem um desafio pela frente:
aumentar o acervo permanente que ainda é pequeno.
“Vamos fazer uma grande exposição sobre a vida de Janete
ainda sem data no ano que vem. Uma exposição que vai
gerar um acervo permanente”, anuncia Mario. “Para mim
foi uma honra fazer o projeto, realizado na gestão do pre-
feito Jorge Roberto Silveira. Rodrigo Neves, atual prefeito,
também abraçou a causa do museu. Tiramos as paredes
com uma engenharia sofisticada e o apoio de uma estrutura
metálica para que elas não caíssem. Ele tem tudo o que
um museu precisa para cumprir seu objetivo de estimular
a cultura popular: sala para
workshop
, reserva técnica, sala
para restauração além de uma museografia coringa com
estantes, cubos, vitrines que podem ser aproveitados a cada
novo evento”, afirma o arquiteto, que fez a primeira expo-
sição com 140 peças, a maior parte da coleção de Vilma Eid,
da Galeria Estação, de São Paulo.
De “A Arte Casual” (1985), no BANERJ, passando por
“Viva o povo brasileiro” (1992), no MAM, a “Do tamanho
do Brasil” (2005), no SESC, Janete era uma artista da
exposição. “Fiz muita curadoria e muita montagem de
exposições junto com ela, que era convidada por vários
museus no Brasil e até mesmo no exterior. Ela, responsável
pela curadoria, e eu, pela museografia, a cenografia da
exposição”, lembra Mario Santos.
Na casa de Janete Costa, segundo Mario, as coisas
ecleticamente conviviam, com a arte popular tão valorizada
quanto a contemporânea ou a moderna. Era unha e carne
com Roberto Burle Marx, cujo atelier chegou a projetar e
decorar. “Apaixonados por arte popular, falavam-se dia-
riamente. Roberto sempre gostava de ouvir a opinião dela
sobre seus quadros. Eles eram viciados um no outro, tro-
cavam figurinha. Tenho uma escultura de arte popular que
pertenceu ao Roberto, do Maurino, um escultor mineiro,
discípulo do Aleijadinho, só que com um certo humor. Ele
faz um santo, mas é um santo que tem uma cara mais bem
humorada. Nada circunspecto”, recorda Mario, que acom-
panhou a mãe em suas viagens pelo interior do Nordeste.
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