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CULT
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É o caso do próprio Elcerdo. Nascido em Volta Redonda,
ele começou lendo os gibis do pai. Eram clássicos como
Tintim, Flash Gordon e Asterix, até hoje suas maiores influ-
ências. Estudou física por dois anos, mas, como gostava de
desenhar e queria fazer algo mais ligado à arte, formou-
-se em design e passou a trabalhar como ilustrador. “Não
via quadrinhos como design. A faculdade que me abriu os
olhos para isso. O material, para ser vendido, tem que atrair
o leitor. E o design ajuda muito na produção da página. Os
quadrinhos são a junção dessa e de várias outras artes”,
acredita o quadrinista, que começou a investir na carreira
em 2007: “Teve um
boom
de lá para cá de produções in-
dependentes. As pessoas começaram a se bancar. Vários
grupos lançaram livros. Muitos nem têm editora e editam
seus próprios quadrinhos. Ficou muito acessível este negó-
cio de gráfica. Caiu muito o preço. Antigamente era inviá-
vel, era preciso se virar com xerox, que tem qualidade bem
inferior. Hoje você consegue cortar o que chamamos de
atravessadores e lançar um produto mais barato. Em 2009,
juntei-me com três amigos, e veio a ‘Beleléu’, que era uma
revista. O retorno foi bem legal: rodamos mil exemplares,
que se esgotaram em um ano. E aí lançamos o selo de mes-
mo nome, para editar outros produtos”.
Elcerdo não tem personagens fixos e diz que esta é uma
tendência: “Grandes caras, como Laerte e Angeli, tam-
bém pararam de fazer personagens. O que cresceu muito
é você se usar como personagem. Faço muito quadrinhos
autorais, em que o personagem sou eu. O cartunista ame-
ricano Robert Crumb começou com isso, e gente como
o brasileiro Allan Sieber, com quem já dividi escritório,
também faz”. O quadrinista chegou a participar de um
projeto de livro com Maurício de Souza, que escolheu 50
profissionais para fazerem histórias com algum persona-
gem da turma da Mônica. “Eu fiz o Nhô Lau, que atira-
va no Chico Bento quando ele ia roubar goiabas. Minha
história era com o porquê de ele proteger a goiabeira. O
Maurício de Souza disse que chorou ao ler, adorou”,
gaba-se, ciente da necessidade de se investir no pú-
blico infantil para assegurar a renovação do público
leitor: “O público do nosso selo não é tão jovem, tem
28 para 30 anos. Nosso quadrinho é mais adulto, não
é de fácil digestão não. Mas este público vai envelhe-
cendo e precisa de novas ofertas. Da mesma forma
que é preciso formar novos leitores habituados com a
narrativa dos quadrinhos”.
Essa narrativa não mudou tanto assim. No mundo
ocidental, eles continuam sendo lidos da esquerda
para a direita, de cima para baixo. “O código de lei-
tura não muda. A gente não se perde, mesmo lendo
os quadrinhos mais modernos, que desconstroem
o conceito de quadrinhos, com quadros sangrados
(que extrapolam a margem da página), de cabeça
para baixo, expandidos... Os quadrinhos mais con-
temporâneos fazem muito isso. Já os mais clássicos
(Fantasma, Mandrake) são mais empacotadinhos,
comportados. Hoje há mais experimentos, enqua-
dramentos mais ousados, como no cinema”, lembra
Ricardo Leite. Da mesma forma os balões de fala,
criados no final do século XIX – segundo Ricardo, o
primeiro gibi a ter balão é “Os sobrinhos do capitão”
–, são cada vez mais explorados, tanto dentro quanto
fora, para captar a essência do som: o pontiagudo é
grito, o com as bolinhas é pensamento, o com tra-
cinhos em volta é para falar baixinho... Com esses
elementos a história dos quadrinhos continua.
Uderzo, e seu traço de Asterix e os Normandos, arrematada por 243 mil euros no leilão da Sotheby’s”
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