Magazine 56 - page 132

CULT
MAGAZINE CASASHOPPING
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O VALOR DOS
DAS BANCAS AOS LEILÕES, DOS SEBOS ÀS
GRANDES COLEÇÕES, COMO OS QUADRINHOS
DEIXARAM DE SER HISTORINHAS
PAULA AUTRAN
QUADRINHOS
S
e estivéssemos numa história em quadri-
nhos, não faltariam balões de palavras e
onomatopeias entre muitos personagens
interessantes e de traços fortes para contar esta
sequência de fatos quadro a quadro. Mas, ainda
que esta seja uma simples reportagem, não será
preciso desenhar para mostrar que os quadrinhos
não estão mais (só) no gibi. Eles viraram livros de
arte, estão disponíveis em galerias virtuais e mui-
tos originais de seus clássicos são vendidos a peso
de ouro em leilões, sendo inclusive emoldurados e
exibidos com orgulho por admiradores. Que o diga
o designer Ricardo Leite, sócio e diretor de criação
da Crama Design Estratégico (autor, entre outras
coisas, do logo dos 450 anos do Rio), que se tor-
nou um colecionador e tem as paredes da sala e do
escritório de casa cobertas de quadros de quadri-
nhos. Fora as gavetas. São desde Hergés (Tintim),
Uderzos (Asterix, Obelix e Cia.) e Mort Walkers
(Recruta Zero), mais tradicionais; passando por na-
cionais, como Verissimos, Claudios Paivas, Laertes e
Ziraldos; até mais contemporâneos, como obras de
Salvador Sanzs (Stigmata).
“Há uns dois anos venho prestando atenção neste
mercado, desde que vi alguns originais à venda em
Paris. Voltei com isso na cabeça. Já tinha um monte
de quadrinhos brasileiros presenteados por amigos
como Claudio Paiva e Ziraldo. Eram quase cem, mas
estava tudo espalhado. E comecei a emoldurá-los.
Clássicos famosos são muito valiosos. Há obras do
Hergé orçadas em 240 mil euros. Um Uderzo chega
a 300 mil euros no leilão da Sotheby’s”, exemplifi-
ca Ricardo, mostrando um catálogo de leilão como
o que participou para arrematar um Tarzan: “Há
que se levar em conta detalhes como quem de-
senhou (o Batman de Frank Miller vale mais, por
exemplo), qual personagem aparece em cena, se
a obra está assinada...”. O designer já esquadri-
nha o assunto faz tempo. Começou a desenhar
aos 3 anos e tinha como referência personagens
de suas historinhas prediletas, como Pato Donald
e Mickey. “Desenhava compulsivamente e, aos 7
anos, já encadernava meus trabalhos do jeito que
eu conseguia. Entre 8 e 10 anos, inventei um per-
sonagem, o Capitão Cinco, que misturava faroeste
e super-herói. Já fazia desenhos mais avançados,
com sombra à base de caneta Bic, narrador, balão
de pensamento...”, relembra Ricardo que, aos 13,
impactado pelo lançamento do Pasquim e pela
chegada ao Rio da Ebal (Editora Brasil América
Latina, a maior do ramo na região, responsável
pela vinda dos quadrinhos para cá), encheu-se de
coragem e, com um exemplar de seu gibi, bateu
à porta da editora em busca de trabalho. “Eles
me deram um estágio, mas não publicaram minha
história, que acabei perdendo. Também tentei pu-
blicar no Pasquim nesta época, mas não consegui.
Aí fiz meu próprio jornal, no colégio, o São Bento.
A história não teve fim. Ricardo entrou para o cur-
so de Belas Artes, em 1979, no firme propósito de
se tornar quadrinista: “Eu não queria ser designer.
Só escolhi a carreira porque, quando fui decidir
qual curso fazer em Belas Artes, vi as disciplinas
que havia disponíveis e achei projeto gráfico, que
tinha aulas de história em quadrinhos. Era o meu
curso. Projeto gráfico virou programação visual e,
depois, comunicação visual”.
The Spirit, em cartaz de Will Eisner
para a Comic Book Expo 2000
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