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Cor é Vida

Wair de Paula, Jr.

Um mestre catalão tinha uma frase muito particular sobre a cor – “Na realidade trabalha-se com poucas cores. O que dá a ilusão do seu número é serem postas no seu justo lugar. “E eu pensei nisso ao ver uma instalação recente na Bienal de São Paulo, cuja foto abre este blog. Entrava-se em um ambiente totalmente escuro, de repente apareciam umas cortinas de franjas de sisal tingidas em cores quentes, iluminadas, e elas iam se sobrepondo, correndo pelo espaço, assustando um pouquinho dada a escuridão do local, mas eram poucas cores, e pareciam muitas em virtude ou do movimento, ou da iluminação, ou da junção destes dois elementos. Face a isso, eu não ousaria, nunca, contradizer um gênio como Pablo Picasso, autor da frase acima.
E eu ainda estou sob o domínio das cores que encontrei na última versão da Casa Cor Rio, onde vários profissionais ousaram sair da hegemonia absoluta dos tons neutros, para oferecer ambientes plenos de cor, pulsantes...

Claro que advogo em causa própria. O espaço que Lenora Lohrisch e eu fizemos na Casa Cor Rio 2023 foi pleno de cores, e o vitral acima ainda intensificava esse discurso. Num dado momento do dia, a luz do sol entrava por este vitral e esparramava estes tons de cobalto e vermelho forte sobre as cortinas brancas, sobre as pessoas que passavam, em um belo e poético momento para quem passava pelo local nestes horários.

O meu amigo e mestre Denilson Machado conseguiu, com a luz do dia, fazer esta foto de nosso espaço explorando todas as cores originais do ambiente – coisa de quem tem um olhar sensível. E, através de suas lentes, o vermelho que usamos nas paredes, uma tinta da Coral que pegamos na Taeco Tintas, adquiriu mais profundidade. E esta foto ainda destacou as curvas do sofá da Vivence, a luminária da Dimlux e a poltrona de Oscar Niemeyer da Arquivo Contemporâneo. As curvas destes produtos parecem mais sensuais com a luz desta foto, e as cores da marcenaria original da casa – azul, rosa e cinza clarinho – parecem amarrar todo o conjunto.

Num outro ângulo deste mesmo espaço, Denilson ainda consegue ressaltar as cores das cadeiras da Vivence, a concha negra das poltronas da mesma marca, e a escultura de Franz Weissmann da A. Thebaldi Galeria. E, novamente, o contraponto com as formas e cores do teto, da marcenaria da parede belamente executada pela Roma Mobili e do piso original da casa, mostrando uma grande mistura de épocas, estilos e referências. Eu cultuo este tipo de resultado, onde as origens das informações são de diversos tempos, culturas, lugares. As cores fazem parte de nossa vida, cercam-nos todo o tempo. Não fazer uso delas em casa é covardia...

Que o diga a magnífica sala de banho feita por Paula Muller para a Casa Cor Rio 2023, neste tom maravilhoso, em contraste com louças brancas e metais negros. Aqui, um pouco de neutralidade foi dado através da passadeira da Galeria Hathi, que parece atenuar os contrastes com uma simples linha de cor neutra. Eu, que sou adepto de banhos longos e demorados, acho que ia me demorar ainda mais em um banheiro igual a este (juro que eu o queria na íntegra em minha casa...). A cor deste espaço – gerada pela cerâmica e pela tinta da Taeco Tintas – deixa qualquer um com um aspecto mais saudável...

Ainda da Casa Cor, este sofá em terracota vibrante, da Brentwood, iluminado por essa luminária maravilhosa desenhada por Maneco Quinderé, o grande light designer que além de talentoso é uma pessoa muito divertida e agradável. E em breve esta luminária estará no portfólio de produtos da Dimlux. Eu simplesmente adorei esta solução, escultórica, com foco dirigível...um luxo em todos os aspectos.

A loja do Studio Grabowsky ainda não tinha aberto, a hora que eu tirei a foto destas duas mesinhas em resina em cores simplesmente acachapantes. Vermelho/bordô e laranja escuro, me lembram uma bala (que se chamava Soft, mas de macia não tinha nada...) que eu e todos meus contemporâneos adorávamos na infância. Era redonda, nestas cores, quase todas com o mesmo sabor, e geralmente a gente se engasgava com elas pois eram ligeiramente grandes. Estas mesinhas são maravilhosas, as cores de por-de-sol idem, e eu já disse ao dono da loja que preciso de uma destas na minha casa. Nem que seja para lembrar a infância...

E, last but not least, vamos voltar à Arte. Com essa obra linda, forte apesar do pequeno formato, de Rafael Vicente, da A. Thebaldi Galeria. Rafael parece ter conhecimento da fala de Picasso, ele consegue com poucas cores uma quase infinidade de matizes, suas obras são plenas de formas quase em movimento, as massas de cores parecem ser meticulosamente estudadas, composições cromáticas de alto valor estético e emocional. Eu me perco olhando obras de arte desde cedo, elas têm esse poder sobre mim, de me proporcionar momentos de profunda reflexão – e talvez isso explique a minha admiração e reverência aos criadores, provocam o melhor em mim sempre.

Luiz Melodia já cantou que “luz é vida, pulsação”. Eu trocaria por “cor é vida, pulsação...”

Wair de Paula JR.

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