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Pôr do Sol

Wair de Paula, Jr.

Caminhando na praia num final do dia, o pôr do sol me arrebatou, com suas cores. Fisicamente, as cores intensas que vemos no céu durante este momento são o resultado da dispersão da luz solar pela atmosfera. Neste período, a luz do sol precisa atravessar uma camada mais espessa da atmosfera, o que faz com que as cores de comprimento de onda mais curto (como o azul e o verde) sejam dispersas. Isso deixa predominar as cores de comprimento de onda mais longo, como o laranja, vermelho, roxo, e suas infinitas matizes.

A atual sala de estar de minha casa ostenta estas cores, com um coral pesado nas paredes e um tapete dos irmãos Campana em tons de laranja, vermelho, bordô e beges, assim como os tecidos da foto que abre este post, da coleção da Quaker Oficial, uma empresa com um portfolio de tecidos de cair o queixo, com cores e texturas maravilhosas.

A combinação destas cores no pôr do sol cria um espetáculo visual único, encantado. Como são as cores e padronagens da foto acima, obra das mãos dos artesãos que produzem para a Artesa, novo espaço do Casashopping que ressalta a qualidade da mão de obra de artesãos brasileiros, principalmente os do estado do Rio de Janeiro. Este espaço apresenta este alto quociente de manufatura através de vários produtos – de bolsas maravilhosas feitas com fio obtido do processamento de garrafas PET passando por jogos americanos, luminárias, caixas de todos os tamanhos, e com um elemento especial – todos os produtos são peças únicas, dado seu conceito de manufatura e extração de fibras vegetais ou aproveitamento oriundo da reciclagem.

A primeira vez que eu vi a luminária acima, na vitrine da Dimlux Iluminação, foi paixão à primeira vista. A linha Phenomena tem como inspiração a palavra grega de mesmo nome, que para o filósofo Platão remeteria aos fenômenos que são as imagens perfeitas e eternas. Esta luminária ainda se apresenta em outros formatos e cores, mas este tom de laranja deve irradiar uma luz absolutamente maravilhosa em uma casa, remetendo diretamente ao astro-rei, uma pureza de forma cuja cor adicionou um elemento mágico, em magnífico resultado.

Recentemente, utilizei o mármore Rosso Aziago acima, da BDM Gallery, nos tampos de umas mesas laterais. Eu devo estar sob efeito de alguma influência astral, que me faz optar pelas cores deste espectro, mesmo em materiais que naturalmente são utilizados em outras cores, outros revestimentos. E eu já disse aqui neste espaço, acho maravilhoso os veios sedimentados nas pedras naturais, eles parecem explicitar o curso do tempo que foi necessário para que estes produtos alcancem este quociente de fascínio e unicidade. Por sorte saímos (antes tarde do que nunca...) da hegemonia das pedras neutras, hoje o mercado está aceitando mármores, quartzitos, granitos e outras pedras com desenhos exóticos e cores que saem do óbvio, da cartela comum. Impossível não relacionar este produto belíssimo ao tema deste post.

O tom quente do tapete acima, saído do portfólio de produtos da Galeria Hathi, está sendo presença marcante em meus projetos atualmente. Talvez seja influência da leitura dos livros de Itamar Vieira e suas cores encantadas, talvez seja uma vontade de lidar com aspectos mais ancestrais, este tom de terracota preenche qualquer espaço com muita propriedade.

Ainda da Galeria Hathi, este apanhado de texturas, tramas, tonalidades...os grandes bureaus de tendência afirmam – os próximos anos terão influência nas culturas do Hemisfério Sul, e a manufatura e o artesanato são fortes abaixo da linha do Equador. Claro que estas tendências sempre têm um quociente mercadológico, mas acredito que a valorização da mão de obra, dos aspectos mais ancestrais de nossas sociedades, de menos racionalismo e mais emoção, de uma procura por tempos menos líquidos, menos urgentes, sejam os vetores que estão alavancando estas tendências. Não sei afirmar quais são as origens destas tendências, mas estou inteiramente inserido nestas.

Outro dia fiquei algum bom tempo vendo o dia se esvair em uma infinidade de rosas e laranjas, um pôr do sol insólito na cidade de São Paulo, Do alto eu via as sombras se prolongarem e o céu ser tomado pelas matizes mais claras, e depois se tornando mais violentas, escuras. Quase uma epifania...Neste dia meu quarto ostentava fronhas rosa-claro e uma manta nas cores das almofadas acima, da Guilha, em perfeita sintonia com aquela exuberância provocada por uma questão física – a dispersão da luz solar pela atmosfera, como já explicado no começo deste. Mas eu foquei mais foi no aspecto poético do momento, mesmo.

O balanço acima, da Mac Moveis, parece ter sido feito sob medida para ilustrar este post. Não só seu trançado exibe cores maravilhosas, mas como sua tapeçaria, e eu já imagino o quanto deve ser gostoso ver o pôr do sol esparramado neste móvel, aproveitando não apenas as benesses divinas e naturais, mas também o conforto deste balanço, que ainda oferece um elemento extra – a lembrança de tempos imemoriais, quando nos balançávamos sob a copa das árvores, design afetivo por excelência.

E termino este post com a obra acima, um objeto do artista Osmar Dillon feito na década de 1970. Tenho “meu” sol particular, para aqueles dias em que a natureza resolve se assenhorar de nuvens e névoas. Esta obra foi comprada há muitos anos, este artista era um verdadeiro poeta visual. E eu tenho um carinho muito especial por esta obra, por “meu” Sol.

O poeta Caio Fernando Abreu disse algo como “...Tente. Sei lá, tem sempre um pôr do sol esperando para ser visto...Pelo menos sorria, procure sentir amor. Imagine. Invente. Sonhe. Voe.” Em suma, é isso o que o pôr do sol nos propõe.

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