

“A partir dos parceiros
musicais cada balé acontece
de forma diferente.
Meu sonho é fazer um
livro sobre a história
do Corpo”
Coreografia, música,
cenário, iluminação e
figurino entram numa
simbiose mágica
em cena.
cujo segredo está nas nesgas, acrescentadas à roda na
medida infinita do movimento. Todas as saias têm uma
faixa que pode ser trocada à medida que vai sujando
de tinta e transpiração. Os bailarinos nunca saem de
cena alternando-se na batalha do claro e escuro.
A partir dos parceiros musicais, cada balé acon-
tece de uma forma diferente. Tom Zé, Lenine, Milton
Nascimento, Arnaldo Antunes, vários músicos já
fizeram parceria com o Grupo Corpo, mas Marco
Antonio Guimarães e José Miguel Wisnik são os mais
assíduos. “Adorei trabalhar com Lenine, que fez “Triz”.
Meu santo cruza com o dele, que é um dos maiores
músicos desse país”, afirma Rodrigo.
Para Rodrigo, que não conhecia o candomblé, o pro-
cesso de pesquisa e criação de “Gira” foi uma grande
novidade. “Fiquei muito amigo do Pai Marcelo, que
me conduziu e me ensinou. Aprendi com ele o gestual
de cada entidade”, conta Rodrigo, que com Paulo
Pederneiras e Freusa Zechmeister fizeram um labora-
tório durante vários meses na Casa do Divino Espírito
Santo das Almas, em Belo Horizonte. Até hoje Rodrigo
frequenta o lugar. “Aprendi demais com essas pessoas
generosas. Para mim Exu era uma entidade, mas des-
cobri que existem vários Exus”, explica.
Foi lá que Freusa Zechmeister, responsável pelo
figurino, começou a imaginar o panejamento das saias
para vestir os bailarinos. Apaixonada pelo trabalho
com o grupo, a arquiteta pesquisou muito até conse-
guir o tecido ideal. Precisava ser claro, mas não podia
ser branco, porque o branco estoura em cena. Depois
de visitar inúmeras lojas em Belo Horizonte, descobriu
uma mistura de linho com seda com a transparência
necessária para os efeitos de luz de Paulo Pederneiras
e um movimento capaz de ganhar o espaço. Segundo
Freusa, é na luz criada por Paulo que seu trabalho
cresce e funciona.
Do anticenário à pincelada de vermelho no pes-
coço, a estética de “Gira” é minimalista até mesmo
no sutil moulage das saias boladas por Freusa. Saias
A força de Gira, balé mais recente
inspirado no candomblé, com música
de Tom Zé e Zé Miguel Wisnik, uma
coreografia de Rodrigo Pederneiras
MAGAZINE CASASHOPPING
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