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Sobre Curvas

Wair de Paula, Jr.

Nosso arquiteto maior, Oscar Niemeyer, já disse que “...não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual...”. E ele manifestou isso em toda sua obra, e o Museu de Arte Contemporânea de Niterói é a prova viva desta exegese. E ele não está errado, a linha reta, dura, inexiste na natureza. Curvas são naturais, são a extensão de nossos gestos, e depois de algumas décadas de mobiliário 100% retos, cheios de ângulos, recentemente o mercado assumiu as curvas em todo seu potencial.

E bingo! O mercado se curvou às curvas...rs. O sofá acima, da Way Design (@waydesignmoveis), recém lançado na Mostra da marca, em espaço de Fabio Cardoso e Alexandre Lobo (e foto de minha querida Nara Lauria), é a prova  física disto. Este espaço, em questão, se utiliza de dois sofás curvos e um imenso tapete da Avanti Tapetes, com desenho da dupla de arquitetos, criando no meio da loja um ambiente absolutamente confortável, chic e contemporâneo. Um lounge que poderia estar nos melhores projetos dos melhores hotéis, com toques de cor interessantes, e uma bela obra de Marcelo Solá da Galeria Almacen Thebaldi  (@a.thebaldigaleria) arrematando o conjunto.

Da coleção Borogodó, da Breton (@bretonoficial), o sofá Azura tem curvas até em suas costas. É interessante ver o cuidado com as costas de um sofá, pois sofás curvos geralmente se permitem serem colocados no meio do ambiente, e esse explora essa qualidade, com suas costas que parecem imensas pastilhas, extremamente original. Design de Victor Vasconcelos, um jovem designer que já desenhou vários produtos para a marca.

É dos irmãos Campana a bica/torneira para banheiros, da linha Conexões Espontâneas da Decol, e você encontra esta peça na Vilarejo Conceito (@vilarejoconceito). O trabalho dos irmãos Campana é pródigo em desenhos curvos, intuitivos, espontâneos – eles sempre se mantiveram na onda mantendo essas características. Eles parecem priorizar a manufatura ao desenho, quase tudo que eles fazem parece que “nasceu” da matéria prima, não que é fruto de um projeto rígido e formal. Talvez isso justifique o sucesso estrondoso que seus produtos fazem na Europa, Ásia e América , esse je ne sais quoi que permeia toda sua produção, que parece contrariar as rígidas normas vigentes do design de produtos.

Eu confesso que sou maluco pelas luminárias da Artemide, e a Nesso sempre foi um sonho de consumo, com suas curvas invertidas em suave contraponto. Mas agora eles têm a Nessino, a versão mini da luminária desenhada em 1967 por Giancarlo Mattioli, em termoplástico moldado. Ela é sexy, divertida, chic com força, e agora na versão mini, está ainda mais interessante. Eu adoro luminárias de cor âmbar ou laranja, a luz provocada sempre é agradável, deixa as pessoas com aparência mais saudável, e eu estou doido para adquirir a Nessino – vai ficar perfeita no meu bar. Aliás, eu adoraria ter as duas, sem nenhum problema...

E das pranchetas dos irmãos Achille e Pier Castiglioni, a luminária de piso Arco é um clássico desde sempre – tem mais de 60 anos, e continua atualíssima. Este produto inclusive é premiado com o Lifetime Achievement Award, eu já tive em minha casa em priscas eras, e é mais do que uma luminária, é uma peça de grande caráter escultórico, com seu bloco de mármore sustentando o arco e a cúpula de metal. Essas luminárias estão no acervo de produtos da Dimlux (@dimlux_iluminacao), uma loja repleta de ótimos produtos, quase todos assinados.

As curvas do Rio inspiraram a escultura acima, da Velha Bahia (@velhabahia). O Cristo Redentor, a Pedra da Gávea e o Pão de Açúcar foram todos explicitados nesta escultura em aço carbono. A cidade do Rio de Janeiro é pródiga em curvas, talvez essa tenha sido a maior inspiração de Niemeyer, e é o que faz a cidade ser especial. Chegar na Lagoa Rodrigo de Freitas e admirar a paisagem que a cerca é um prazer que sempre me surpreende, as linhas das montanhas são um excelente elemento inspirador para qualquer criador. Não dá para negar a influência do meio ambiente, impossível resistir a este manancial de informações que a natureza carioca oferece.

O tapete de formato orgânico, da Trama Tapetes (@tramatapetes) faz parte da coleção Manifesto, design de Tiago Curioni. Além do recorte irregular, ele tem linhas sinuosas gravadas em sua superfície, provocando o olhar e criando um tapete de inegável apelo estético. Eu já afirmei aqui no blog ser o maluco dos tapetes, e eu adoro ver novas soluções para velhos problemas, como o tapete acima.

Ainda da Trama, o tapete acima assume ares de tapeçaria, de obra de arte. Elegante até o último nó, e altamente decorativo, ele literalmente compõe um ambiente, tamanha sua força de desenho. As curvas irregulares provocam massas de cor contrastante, e me é extremamente caro ver um tapete com tamanha dose de ousadia. Lindo, chic, prático (pois é confeccionado em Nylon), é um tapete que eu adoraria ter em minha casa, não fosse o acervo de tapetes que já tenho. E nem parede eu tenho para dispor esta peça, seu desenho realmente parece uma obra de arte.

Eu escolhi a foto de costas da poltrona Colo, da Ovoo (@ovoobrasil), por causa de suas curvas elegantes e insólitas. Essa poltrona faz parte da coleção Gênese, que a marca lançou recentemente, e além de extremamente confortável, ela é giratória, e eu amo poltronas giratórias. Assinada por Maurício Bonfim, ela congrega em seu desenho as coisas que mais prezo numa poltrona – conforto absoluto, desenho limpo e acabamento perfeito. Uma das mais versáteis poltronas que eu vi recentemente.

Criação de Patricia Anastassiadis para a Artefacto (@artefactooficialbrasil), o sofá Opus, composto de módulo central, chaise longue e puff – na verdade, onze módulos diferentes -  é outro daqueles sofás curvos que chegaram recentemente ao mercado. Aqui, o fato dele ser em módulos permite que se faça o desenho (ou curva) que mais se adequar ao projeto. E o nome faz uma explícita referência à música, pois seus módulos podem dar a origem a infinitas composições. O acabamento, para variar, é perfeito, como tudo o que esta empresa faz.

E eu volto aos tapetes, assumindo minha paixão por esse importante elemento da casa. Aqui, um tapete imenso e cheio de curvas em seu desenho, da Avanti Tapetes (@avantitapetes), empresa veterana no mercado. Em desenho especial solicitado pelo arquiteto que projetou este espaço, é a mostra de que um tapete literalmente “amarra” um ambiente. Além de suas qualidades acústicas  (pisos com tapetes propiciam uma acústica muito melhor), ele ilumina o ambiente.Eu simplesmente não consigo conceber um bom ambiente social e/ou íntimo sem um bom tapete. É como o sapato perfeito amarrando um look impecável, não consigo viver sem...

E termino esse post com as curvas deslumbrantes da linha Smart Solar, da Trançarte (@trancarte). O mercado de móveis outdoor deu um salto de qualidade e de design nos últimos anos, e as marcas estão oferecendo produtos de alto valor agregado e design maravilhoso. E estes parasóis são lindos, sensuais, versáteis e altamente escultóricos – quem não procura essas qualidades em suas áreas de convivência, ainda mais depois da pandemia?

Um famoso teatrólogo/escritor já disse que “...perante um obstáculo, a linha mais curta entre dois pontos pode ser a curva.” E eu assino embaixo, curvo-me às curvas do design em franca reverência. Oxalá isto seja mais do que uma tendência, que seja um mandamento do bom design, e que nossas casas e ambientes de trabalho sejam fartos de curvas generosas, como as curvas de Niemeyer – ou da natureza.

 

Wair de Paula Jr.

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Comentários

Daniela Prado

9/junho/2023

Excelente esse blog! Parabéns!