A Casa Cor Rio de Janeiro entra em sua reta final, pois termina dia 15 de outubro próximo. Mas ainda é um manancial de imagens e ideias muito grande – eu, que sou participante, não paro de encontrar detalhes e assuntos que ainda não tinha percebido. O que não é o caso do espaço de Gisele Taranto, uma suíte recheada de móveis e objetos muito particulares. As cadeiras/poltronas acima, chamada Cadeira Tubo, é de autoria de Guilherme Wentz. É conceitualmente uma ideia simples magnificamente desenhada e executada – uma estrutura revestida em espuma e forrada com um tecido 3DKnit, cuja matéria prima é obtida da reciclagem de garrafas PET. Essa cadeira é linda, macia, interessante, e muito confortável – e está no portfolio de produtos da Arquivo Contemporâneo.
E a mesa de jantar que acompanha essas cadeiras tem desenho da própria arquiteta, executada em um mármore lindo da Azul Milano. O desenho é simples, o que valoriza muito a matéria prima, e as cores estão totalmente dentro da escala de cores de todo o espaço, cujo tema é uma valorização do bem-estar. E as linhas retas contrastam de forma muito inteligente com as formas curvas da cadeira, numa grande sacada.
Jean Gillon criou a poltrona Jangada em 1968. Descobri recentemente que este artista multidisciplinar foi colaborador da revista brasileira Casa e Jardim, fato que desconhecia dentro do portfolio de atributos deste grande criador. A Jangada é um ícone do design facilmente reconhecível, com sua estrutura em madeira maciça e cordas de algodão. E a luminária ao lado dela é de autoria de Claudia Moreira Salles – de nome Cantante, é uma beleza, com uma estrutura em metal dourado e cúpula esculpida em madeira cumaru. A luz emitida por esta peça é suave, quente, e está em perfeita sintonia com o discurso deste espaço, feito por Leila Dionizio. E o painel de madeira atrás da cama é um luxo...
Em um dos espaços construídos na área externa da casa, o arquiteto Julio Teroni construiu uma suíte sóbria, elegante, e desta destaco um móvel que considero fundamental para um quarto – esta mesa de cabeceira, oval, desenho de Patricia Anastassiadis para Artefacto. Eu simplesmente adoro mesas de cabeceira, pois geralmente tenho muitas coisas em minhas mesinhas ao lado da cama – bloquinhos de papel, lápis e canetas, sempre um chocolate, uma garrafa de água, meus óculos, anéis, pulseira, etc...Por isso preciso de uma mesa geralmente de proporções um pouco maiores, e esta me serviria perfeitamente. E o formato oval dá um charme extra, não?
Sonho de consumo, a Mini Snoopy, luminária criada originalmente em 1967 e repaginada em 2003, escondidinha no bar maravilhoso de Tiago Freire. Essa luminária é extremamente marcante, ligeiramente fun, gera uma luz linda e não parece ser uma quase sessentona, pois é muito, muito moderna. A luminária criada na década de 1960 é uma versão maior desta, e acredito que alguns aspectos tecnológicos também foram revistos nesta versão. Mas é uma belezinha, não é mesmo?
Subindo a imponente escada em jacarandá do Instituto Brando Barbosa, o espaço de Claudia Pimenta e Patricia Franco exibe este par de poltronas lindas, novamente desenho de Patricia Anastassiadis para Artefacto. As formas destas poltronas são muito simples e extremamente elegantes, e a manufatura desta marca é sempre impecável, o que torna qualquer produto em algo desejável.
E ainda do mesmo espaço, a mesinha em vidro soprado da Artefacto é um luxo. Visualmente leve, de aspecto delicado, parece uma ampulheta agigantada, e é muito interessante ver o mercado produzir peças com estas características. É o tipo de mesa que pode estar ao lado do sofá, junto à mesa de centro, sob um aparador, ao lado da pia no lavabo, um coringa em todos os aspectos.
A recepção do Hotel Boutique / Casa Cor Rio 2023, feita por mim e por Lenra Lohrisch, ostenta alguns ícones do design – sendo um dos maiores a poltrona Alta, do mestre Oscar Niemeyer. Desenhada em 1971 por Oscar e Anna Maria Niemeyer, mostra as curvas que são muito caras ao pensamento do mestre. E o conforto desta poltrona é absoluto...e, ao fundo, uma peça muito delicada, uma cadeira de Scapinelli, desenho da década de 1940, agora reeditada. Uma obra de marcenaria deslumbrante, delicada, delgada, extremamente elegante e original. Ambas da Arquivo Contemporâneo.
E a mesma poltrona, agora na versão branca, aparece no espaço de meu mais recente amigo Lucas Barbosa, que saiu de Campos de Goytacazes para arrasar em sua enoteca da casa cor rio. O contraste da estrutura com a tapeçaria clara ressalta o desenho da peça, e este espaço ainda oferece arrepios de toda sorte – isso é apenas um spoiler, tem que visitar para saber do que estou falando.
A banqueta Atabaque, de autoria de Jacqueline Terpins (famosa por suas peças em vidro) é de uma simplicidade absurda, e insuspeito conforto apesar de sua matéria prima sólida. Disponível em duas alturas (na Arquivo Contemporâneo), é outra daquelas peças que podem (com um certo esforço...rs) migrar dentro de espaços da casa, tamanha sua capacidade de se mesclar a outros ambientes e/ou estilos.
Tanto o banco acima como a Luminária deste aparador, desenho de Guilherme Wentz (também da Arquivo Contemporâneo) estão no piano bar de Paula Neder, uma mestra em seu metier. Conhece tudo de design, sabe mesclar produtos e compor espaços cheios de história. Aqui, neste piano bar, não é incomum encontrarmos alguém dando “canja” tocando alguma coisa, num piano histórico pois já pertenceu a Madalena Tagliaferro. Chic...
Eu simplesmente sou maluco, doido por estas poltronas de Warren Platner, desenhadas em 1966. São extremamente sofisticadas, confortáveis, e conferem luxo a qualquer espaço. Eu ainda preciso ter duas destas para colocar nas cabeceiras de minha mesa de jantar nova, de desenho próprio e formato ovalado, para se mesclar à outras cadeiras que já tenho. É que estas são realmente sonho de consumo...na minha versão, seria forrada em azul cobalto ou verde esmeralda, e garanto que ficariam lindas. Aqui estão na Joalheria de Andrea Duarte e Anna Malta. E estas belezinhas são da Novo Ambiente.
E Patricia Marinho e Manuèle Colás colocaram em sua Sala de Encontros design de altíssimo quilate, como a poltrona Paulistana de Jorge Zalszupin (datada de 1960) e a mesa poética até o último degrau chamada Praça, de Luciana Martins e Gerson de Oliveira. Ambas da Arquivo Contemporâneo (que ainda distribuiu outros ícones de design neste ambiente), mostram que o diálogo de épocas distintas, quando feito através do bom design, se dá de forma muito contemporânea, salutar e delicada.
Ainda teremos mais Casa Cor aqui no blog? Sim, provavelmente...temos muitos temas ainda. A Casa Cor termina dia 15 de outubro, não perca a chance de conhecer uma das mais belas casas da cidade, agora ressignificada como Hotel Boutique.
Wair de Paula Jr.