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Stairway to heaven

Wair de Paula, Jr.


“...há uma dama que acredita / que tudo que brilha é ouro /
E ela está comprando uma escada para o paraíso...”


Assim começa um dos clássicos do rock de todos os tempos – Stairway to Heaven, de Led Zepellin (eu recomendo muito a versão de Mary J. Blidge para a mesma música, arrasadora...). E eu pensava nisso ao escrever um texto sobre cenários de novelas, e eu percebi que toda casa de gente de classe alta – nas novelas – tem escada. Exóticas, discretas, mas sempre tem uma escada, uma metáfora do “subir na vida” expresa de forma geralmente tosca.


Eu sempre tive fascinação por escadas. Lembro-me de ter subido não sei quantos andares da obra monumental de Gaudi, a Igreja da Sagrada Família, em Barcelona. A escada era um caracol contínuo, estreito, e de vez em quando aparecia uma janelinha minúscula. Num dado momento em não sabia se tinha subido seis ou nove ou sei lá quantos andares. A sensação era claramente claustrofóbica, de tal forma que não cheguei ao topo – não tive nem fôlego nem estrutura psicológica para tanto.


 
A escada acima me chamou a atenção pela forma em que ela foi estruturada – toda a suspensão que a segura cria um efeito dramático, que – liberdade poética a parte – me lembra uma obra maravilhosa da artista plástica brasileira Ligia Pape (o nome da obra é Ttéia, e recomendo uma pesquisa). A primeira vez que vi a obra desta artista foi no MAM Rio, a maravilhosa obra de Reidy. Me causou um impacto maravilhoso, uma obra quase imatérica. Talvez por essa referência eu tenha gostado tanto da escada acima...


O uso da tecnologia permite hoje ousadias de toda forma para este  elemento, transformando-o em um elemento decorativo – as vezes um pouco exagerado, como é a prova acima. Vidro, madeira rústica, madeira branca...o desenho é lindo, mas o resultado achei perigoso.


 
Uma escada pode, realmente, ser o ponto focal de um projeto. O solar do Unhão, em Salvador, projeto de Lina Bo Bardi, é a prova inequívoca deste meu pensamento. Uma curva sinuosa toda construída em madeira, com travas precisas, é praticamente impossível não ver esta escada ao entrar no espaço. Assim como a escada acima, simples, delicada, mas de grande efeito arquitetônico.



O espaço acima é um conjunto de acertos. Provavelmente é um espaço pequeno, pois vemos cozinha, quarto e parte do living integrados. Mas a escada foi pensada para valorizar o pé-direito, arrematando o guarda corpo do andar superior da mesma forma. Essa mistura de metal preto e madeira quase sempre é um recurso com grandes chances de dar certo.



A foto acima é fascinante, em todos os aspectos. O piso em taco com desenho forte, a escada que parece derreter para o piso inferior, o guarda-corpo delicado...um conjunto de elementos construído de tal forma que dá vontade de emoldurar esta foto e pendurar na parede.


 
E o que dizer da escada acima, sinuosa, serpenteando o espaço, arrematada por um tapete especialmente desenhado para o espaço?Uma beleza...É o tipo de escada que todo arquiteto adora projetar e todo engenheiro odeia executar. Dá um trabalho fenomenal para fazer uma escada destas de forma bem acabada, suave . E aqui o conjunto de profissionais conseguiu fazer um trabalho esmerado, de inconteste beleza.


 
Falando em beleza...eu moro perto desta maravilha, o Memorial da América Latina, projeto de Oscar Niemeyer. Esta escada, a curva do teto chegando ao chão, o grande painel de vidro, a largura desta escada, sua imponência apesar da absurda leveza visual – tudo isto é a prova de que gênios conseguem transformar sonhos em idéias, e idéias em coisas físicas, sólidas, lindas como a escada acima.

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