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Branco, bianco, blanc

Wair de Paula, Jr.



Todo ano os sites de tendência indicam uma ou mais cores como as cores da estação. Este ano a Pantone indicou duas cores – um amarelo ácido e um cinza neutro – como as cores do ano, e eu sempre me pergunto a cientificidade por detrás destas tendências...

E eu estava lendo sobre a artista canadense Agnes Martin, que adoro – conheci seu trabalho em uma exposição em NY já faz algum tempo, e me intrigou aquele trabalho feito de listras perfeitas, com graduações de cores fantásticas. Principalmente me interessaram os trabalhos que utilizavam como recurso uma graduação de brancos, com resultado misterioso, criando camadas de profundidades insólitas para um trabalho branco. Já li que a obra esta artista era quase um manifesto sobre interioridade e silêncio...



Eu fiquei pensando que uma obra destas exigiria um ambiente totalmente branco, quase antisséptico, para que a totalidade destas nuances pudesse ser aproveitada. E olhei rapidamente para minha sala, onde embora eu tenha utilizado o recurso de pintar tudo de um tom de cinza mais quente (paredes, rodapés, marcenaria – tudo é da mesma cor), eu tenho tanta coisa – livros, objetos, vasos, quadros, arte plumária – que minha sala parece coloridíssima, apesar da base neutra. 



Creio que eu não tenho estrutura estético/emocional para um espaço como o acima. Piso, teto, paredes, cama e roupa de cama tudo branco, se destacando pequenas linhas negras (nas esquadrias e metais do espaço) e pitadas de madeira, para aquecer. Eu acho lindo, mas ao mesmo tempo gosto de quartos escuros – este quarto acima, de manhã, deve ser de uma claridade insuportável para mim...


 
A sala acima utiliza do mesmo recurso – tudo branco, com pitadas de negro. Aqui as texturas se sobressaem, mas...eu sinto falta de plantas, flores, coisas que mostrem a passagem do morador desta casa pela história.


          
Já aqui eu acho muito legal – um restaurante (La Leche) que utiliza o branco em profusão, e seguramente o que aquece este espaço serão os usuários, os pratos e bebidas. A menos que eles tenham um cardápio todo branco, o que já inviabiliza boa parte das receitas que conheço, pratico e consumo...


Aqui outro quarto branquinho, branquinho – e com uma árvore (parece uma oliveira!) inusitada para o espaço. Eu acho que se acordasse neste ambiente, demoraria um pouco para realizar o que estava acontecendo – faltam referências, este excesso de neutralidade me incomoda. 


 
Já a sala acima me parece muito acessível ao meu olhar. Os grandes janelões trazem o exterior para dentro, e a lareira  negra e as diferentes texturas e referências deste espaço me soam muito agradáveis e elegantes. Fora que o pé direito é uma maravilha...
 


Ao ver o espaço acima, eu fico pensando: o que faz uma pessoa abdicar totalmente de informações coloridas para compor um ambiente? Não posso dizer que é feio – tem alguns elementos muito fortes neste ambiente, mas, mesmo assim, parece que falta algo...falta vida, praticamente. 


 
Um outro ângulo do mesmo espaço colocado no início deste texto comprova – a casa parece ser inteiramente branca. Não que eu ache ruim, errado – é uma opção. Eu considero uma opção entediante...parece que as flores têm que ser brancas, os livros com capas  brancas, tem uma certa hegemonia da imposição da cor absoluta aqui que me incomoda. 
Pensando bem, acho que o quadro da Agnes Martin ficaria perfeito na minha casa mesmo. A obra de arte é soberana, tem uma qualidade que se sobrepõe ao espaço. 
Pena que o preço da artista seja absolutamente inviável para meus padrões...

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