Tenho uma relação pessoal com Chicô Gouvêa – além de ser um amigo e tanto, me proporcionou certa vez um almoço de aniversário em sua casa, que iniciou com uns mini-acarajés e muita, muita bebida. Foi um de meus aniversários mais divertidos, alto-astral e – conseqüentemente, inesquecível.
Para quem não sabe, Chicô além de acumular as funções de designer de interiores / design / criador multimídia / colecionador, ainda é um cozinheiro de qualidade inconteste. Por isso, achei coerente a escolha de montar para a Casa Cor Rio uma sala de jantar – seus almoços e jantares, além da certeza de ótimas comida e bebida, ainda surpreendem constantemente em virtude de seu modo de montar a mesa, sempre muito original e elegante.
Aqui, ele usou uma mesa desenhada por ele para este evento, e coordenou com cadeiras de Sergio Rodrigues, criando uma sintonia muito contemporânea com a arquitetura da Residência Brando Barbosa, onde está acontecendo a Casas Cor Rio 2021. E, ousadia de resultado magnífico, cercou o lampadário original da casa com um aro em aço e iluminação embutida, criando um jogo de épocas e materiais que apenas os que têm domínio de seu métier conseguem.
Sobre o aparador (também desenho de Chicô), a obra de Franz Kracjberg cria um ponto focal muito inteligente, e a partir daí percorremos o espaço para ver os detalhes que criam esta atmosfera tão agradável. Como as gravuras de Franz Post e o banco indígena (lindo...quero...preciso...), numa dialética sutil e provocadora.
Aqui, detalhe de outro ângulo da sala, com outro banco indígena (quero...preciso...). Valorizar aspectos da cultura brasileira, em todas as suas manifestações, sempre foi uma característica de Chicô. E essa é uma característica que deveria estar mais presente em nossas casas e apartamentos – boa parte dos profissionais de nossa área não manifesttam o interesse em criações ditas “não eruditas”. A mistura de elementos e a generosidade das escolhas é que transformam os espaços de Chicô em ambientes atemporais e internacionais.
Aliás, a obsessão de Chicô por detalhes pode ser manifestada na montagem da mesa – utilizando louças da veneranda marca portuguesa Bordalo Pinheiro (para quem Chicô criou uma linha linda, e era um prazer ver essa louça exposta nas melhores lojas em Milão ou Miami). A escolha das cores reforça o quociente de brasilidade do criador deste espaço.
Seu espaço ainda compreende uma varanda deliciosa, muito agradável – e os móveis da Tidelli em azul esverdeado fazem um contraste quase romântico com as cores externas da casa. Uma varanda para se ficar horas, batendo papo e aproveitando a vida.
Chicô tem a generosidade e a pluralidade cultural em seu DNA, e isto transparece em seus projetos. Uma sólida construção feita de camadas de informação, sedimentadas com muita propriedade e ousadia.
A Casa Cor Rio já está aberta, com hora marcada como manda o novo figurino. Está esperando o quê para ver ao vivo?