O grande arquiteto e decorador Luis Fernando Redó (1948/2014) contava uma história ótima – e, ao que tudo indica, verídica – sobre o uso da cor vermelha na decoração. Ao fazer a casa de uma socialite carioca / jetsetter internacional, usou e abusou desta cor em paredes, estantes, móveis, com resultado para lá de elegante, além de ousado. Ao receber amigos e conhecidos (e penetras, como sempre acontece) para mostrar a nova decoração de sua casa, teria ouvido de um desavisado “-...Nossa! Tudo vermelho? Parece uma filial do inferno...”, ao que a dona da casa teria respondido do alto de seus saltos de grife “-...Sim, e você está falando com o Diabo em pessoa!”. O vermelho é uma cor difícil, pois exige iluminação precisa, uso de outras cores e tonalidades com precisão, mas, quando bem utilizado, resulta em ambientes elegantes e dramáticos.
O artista plástico Cildo Meireles usou – e abusou – desta cor em sua obra/instalação Desvio para o vermelho, um de seus trabalhos mais complexos e ambiciosos. Originalmente concebido em 1967, está em exposição no Museu Inhotim desde 2006. Formado por três ambientes articulados entre si, o primeiro apresenta uma casa absolutamente monocromática, repleta de móveis, objetos, obras de arte, tudo reunido de maneira plausível, mas improvável, com resultado que causa impacto e inquietação.
Vista da instalação Desvio para o Vermelho, de Cildo Meireles.
Outro ângulo da mesma instalação.
Provavelmente inspirado nesta obra, o arquiteto paulista Roberto Migotto usou apenas desta cor, em suas infinitas tonalidades, para seu espaço em uma mostra, e literalmente “causou”. O resultado era muito chic, uma verdadeira aula sobre o uso da cor e texturas na decoração.
Mas não precisamos ser tão radicais, fazendo ambientes monocromáticos – isto é muito difícil, e parece que exige que o usuário esteja eternamente na mesma tonalidade para não deslocar do ambiente.
Vejamos alguns exemplos contemporâneos do uso desta cor, geralmente associada à paixão e ao erotismo, mas que nas fotos abaixo foi utilizada com precisão cirúrgica.
Cozinha novaiorquina em laca vermelha, com vista arrasadora.
Banheiro “Categoria Luxo”, com paredes e poltrona vermelha e gigantesco lustre.
Canto do Living, com estantes pintadas no mesmo tom de vermelho das paredes.
Entrada do jovem apartamento, com papel de parede ousado e contemporâneo.
E, finalmente, uma cozinha onde o vermelho não reina apenas nos molhos – teto, armários e paredes em vermelho sangue. Seguramente, deve inspirar ao cozinheiro que aqui atua.
Wair de Paula, Jr.