Johns rompeu com a abstração dominante e centrou
seu trabalho sobre os objetos cotidianos, pertencentes
ao senso comum e a técnica que ele emprega, permite
infinitas variações. O seu trabalho centrado na bandei-
ra dos Estados Unidos, o signo característico da nação e
da coletividade americana, foi representado em plano e
não em movimento, como era hábito dos pintores figu-
rativos. Sua primeira
Flag
foi pintada em 1955 e suscitou
a natureza ambígua da imagem que, segundo o artista,
deriva das coisas que a mente já conhece. “Isso me deu
espaço para trabalhar em outros níveis, e usar o design da
bandeira norte-americana deu conta de muita coisa para
mim, porque eu não precisava desenhá-la. Segui, então,
para coisas similares como os alvos”.
O artista prepara primeiro a tela, cobrindo toda a su-
perfície de papel jornal, para que a alternância de som-
bras das colunas de texto e das margens claras pos-
sam sugerir um movimento quase imperceptível após
a aplicação da encáustica e dos pigmentos de cor, que
permitem múltiplas aplicações. Johns utilizou variações
de estilo ao longo de décadas, carvão, lápis, crayon,
aquarela, litografia, água forte, com grande habilida-
de. Suas
flagstones
e tramas cruzadas muitas vezes
voltaram a ser representadas como elementos enigmá-
ticos, a partir de acréscimos com facas, garfos, utensí-
lios, pincéis, pedaços de móveis, pote de café Savarin,
presos em alguns quadros, assim como partes do corpo
em moldes tridimensionais de gesso ou imagens de ca-
veiras e de órgãos genitais pintadas em série.
Jasper Johns se envolve com uma metódica e obsessiva
precisão matemática, com uma iconografia pré-estabele-
cida, imagens repetidas que ele trabalha até à exaustão.
Repete as imagens em pares ou trios e reproduz padrões
com incrível habilidade para obter novos significados
em um mesmo objeto. Queria tornar visíveis os objetos
e temas aparentemente banais. O crítico Pierre Restany
afirmou que o gesto essencial de Johns, como pintor, é
conferir singularidade ao lugar-comum. A reverberação
do seu trabalho afetou a maior parte dos movimentos
artísticos da década de 50 até os dias de hoje. Já o crítico
do New York Times, Michael Kimmelman, disse, recen-
temente, que seus desenhos e quadros atuais parecem
cada vez mais baseados em um código que precisa ser
decifrado, mas cuja chave só ele conhece.
“The Map”, de 1951: no MoMA, uma das formas com que Jasper Johns usou os símbolos americanos em sua obra
MAGAZINE CASASHOPPING
118
ARTE