Magazine 56 - page 46

ARQUITETURA
“A minha busca pela renúncia é constante – uma sub-
tração de sinais. A busca de uma nova fórmula, mais
sutil, mais silenciosa”. Pensando na sua frase, é fácil
renunciar, na sua profissão?
Não se trata de nenhuma renúncia específica, mas de uma
exigência minha de renunciar a sinais desnecessários e encon-
trar a beleza através da redescoberta dos arquétipos. Deixe-
me explicar melhor, pegando como exemplo a arquitetura:
cada construção deve ser criada a serviço de uma função, de
lógicas e da estética do lugar em que está inserida. A única
maneira de não exceder à natureza é reduzir os sinais. Para
encontrar o caminho certo para a redução dos sinais é su-
ficiente observar o que o homem simples, instintivamente,
criou no passado. Impulsionado por necessidades muito con-
cretas de funcionalidade e limitado aos recursos econômicos
e materiais disponíveis, ele automaticamente conseguiu criar
o belo e o puro. Refiro-me, por exemplo, às casas Walser, em
que construções em madeira e pedra, típicas da região alpina
da Itália, Suíça, Áustria e Liechtenstein.
Amadeira é força natural e um elemento importante na
atratividade do seu trabalho. Quando esse material o
conquistou definitivamente? Quando percebeu que ele
teria um papel enfático na sua personalidade criativa?
Não há dúvida de que a madeira encontrou uma porta
de acesso ao meu trabalho, principalmente, através das mi-
nhas primeiras arquiteturas. Após o período importante de
Memphis e outras passagens interessantes na minha trajetó-
ria, eu comecei a trabalhar em casas pré-fabricadas, unifami-
liares, em madeira. Por exemplo, O Sole Mio, que, em 1990,
que eu projetei para Griffner Haus. Ou Heidi’s Haus para
Rubner, em 1999. Sucessivamente, realizei Vigilius Mountain
Resort, em cima a uma montanha, isolado do tráfego e per-
feitamente inserido na paisagem como um grande tronco
de árvore caído. E é provavelmente desde então que o meu
nome esteve associado à utilização da madeira.
É visível, em vários projetos concebidos por seus es-
critórios, uma atenção às novas tecnologias. Você, no
entanto, é uma pessoa que ainda lê jornais impres-
sos, quase não assiste à TV, escreve cartas à mão aos
clientes, só lê e-mails indispensáveis e parece que com
o celular tem uma relação bastante restrita. Seria uma
tentativa de preservar a sua naturezamais «analógica»,
para não ter a mente e criatividade chegadas pelo as-
pecto digital, pela tecnologia?
O que nos enriquece, intelectualmente, são as experi-
ências vividas em primeira pessoa, inclusive aquelas que
parecem menos importantes. Com o uso de ferramentas
eletrônicas, eu estaria colocando um filtro entre o mundo
real e eu mesmo, o que equalizaria as experiências e re-
moveria a autenticidade. Outra razão para limitar o uso
de instrumentos eletrônicos é, sem dúvida, o fato de que
a memória analógica nos obriga a sintetizar e para filtrar
o que é importante, para podermos lidar com a qualida-
de. Este ato de filtragem é um momento de interioriza-
ção, análise e reflexão. E, portanto, um outro momento
de aprendizado e experiência. Com relação ao trabalho,
tenho uma real necessidade de aplicar-me manualmente.
MAGAZINE CASASHOPPING
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Essencialidade e elegância
caracterizam a banheira
Ofurò, um projeto de Matteo
Thun e Antonio Rodriguez
para a marca Rapsel
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