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ANCESTRALIDADES

Wair de Paula, Jr.

A busca de nossas raízes, a valorização das ancestralidades, do que trazemos da nossa história e/ou memória. Muito tem se falado sobre este tema, que, segundo os pesquisadores, será o grande norteador das ações referentes ao nosso universo – design, design de interiores, a casa enfim. Das artes ao design, passando pela gastronomia, música e literatura, o universo criativo está de olho nas origens. No que é original em sua essência, no primordial. E eu pensei nisso ao consumir uma das minhas guarnições preferidas no universo gastronômico, o palmito assado, feito (e servido) com excelência pelo Royal Grill. Um prato de origens ancestrais, grelhado na casca, servido com um molho de manteiga e ervas, sem excessos, firulas ou quetais -e, por isso mesmo, impecável, pecaminosamente irresistível.

Segundo os pesquisadores e lançadores de tendências para a moda e design, a busca à essas origens talvez se deva em virtude da essência pura destas informações. Na culinária, isso significa uma redução dos processos recentes – alquimias, esferificações, espumas de toda ordem – e uma volta aos princípios básicos, o fogo, o grelhado...E eu lembrei na hora destas tábuas para churrasco, design de Bruno Faucz para a Tramontina, que além de lindas (a linha se chama Folio), são fortes, resistentes, e extremamente decorativas. Eu já vejo pratos montados sobre essas tábuas, folhas espalhadas, nacos suculentos de carne grelhada, o básico mesmo, que faz com que os sabores primordiais se destaquem. Sonho de consumo, confesso...

Assim como o tecer, o tramado, uma das primeiras formas de manufatura do ser humano, aqui explicitado neste belíssimo tapete da Nature Design. Eu louvo a beleza destas peças não só pela questão estética, mas – e principalmente – porque valorizo a mão de obra que participou deste processo. Capacitar pessoas em posições socialmente menos favorecidas, através da mão de obra, é uma função muito nobre de nosso mercado, e as empresas que não prestarem atenção à essas questões sociais serão as futuras vendedoras de enciclopédia – ou seja, estarão fadadas ao insucesso. O culto às ancestralidades pressupõe inclusão principalmente.

Essa infinidade de azuis sedimentados ao longo dos tempos, neste produto da MGR Marmoraria, é a prova viva deste discurso que louva as raízes. Apesar de toda a tecnologia embutida para se executar um tampo e frontão com esta qualidade, a manufatura deste tipo de matéria prima seguramente deve remeter à idade da Pedra Lascada, onde o homem descobriu a força deste material – primeiro, como “produto” para defesa, depois para virar objetos, esculturas, tampos, pisos, etc. E este Quartzito Imperial faz jus ao nome – é nobre, nobilíssimo.

Voltando às cores, fico pensando naquelas casas de taipa ou pau-a-pique, em infinitas tonalidades de ocre, vermelho, com a luz penetrando pelas frestas das portas e janelas, salientando os relevos, a mão do homem absolutamente presente neste processo...E, novamente, apesar da tecnologia presente nos produtos da I Colori di Venezia – cuja foto acima ilustra este pensamento - , existe neste tipo de acabamento uma ancestralidade visível, que salta aos olhos e – provavelmente por isso – que faz tanto sucesso, um tipo de trabalho que foi resgatado do passado, agora ressignificado sob novas técnicas, mas de resultado igualmente interessante.

Essa questão de valorização dos elementos ancestrais passa por uma série de princípios, mas – e principalmente – pela mão do homem criando, produzindo, provocando mudanças em sua própria história e, consequentemente, na história. Das pinturas rupestres às artes plásticas como são definidas passou muito tempo, e o homem foi ampliando seus horizontes a ponto de se permitir criar abstrações sobre o universo real. Ou livre-interpretações, como no caso das almofadas acima, do acervo da Guilha, pintadas à mão, extremamente criativas – e deslumbrantes.

E se equivoca quem pensa que trafegar num universo de formalismo estético distancia da busca pela ancestralidade. Uma prova disto é o abajur acima, do portfólio de produtos da Velha Bahia, finamente executado em madeira, uma peça de aparente simplicidade, mas de alto valor agregado, dado seu design puro, ligeiramente brutalista, econômico e de altíssimo resultado. E eu adoro a luz dos abajures, considero que ficamos com as feições suavizadas sob a luz destas peças – eu diria até que ficamos todos mais bonitos sob a luz de um belo abajur como este.

A valorização das ancestralidades não é apenas uma necessidade comercial, mas principalmente um desejo de manifestação da sensibilidade do ser humano perante seu momento e sua sociedade. Estas peças acima, da Dracena Home, do artista Victor Guerreiro, são uma expressão não apenas da criatividade do homem, como também a expressão de sonhos, culturas, estéticas. São valorizadas não apenas por seu resultado, mas por toda uma história que foi sedimentada ao longo dos tempos, baseada em sonhos, arquétipos, sensações e emoções.


Em suma, a busca pela ancestralidade é cíclica, acontece de tempos em tempos, quando o homem parece ter perdido sua essência face à urgência da modernidade. É um auto resgate de valores imemoriais, físicos e emocionais. E é uma sorte nossa poder perceber e participar destes ciclos, destes momentos...

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