If nothing else, believe in Art. Não lembro quem falou esta frase, mas é seminal, um estatuto de que, sem Arte, não somos muita coisa neste universo. Pablo Picasso teria falado que “... a arte leva embora da alma a poeira do dia a dia” . E o escultor Henry Moore vaticinou que “...ser um artista é acreditar na vida.” Eu concordo com todas estas frases, não consigo conceber um mundo onde a Arte não seja um assunto frequente, diário. Tenho um profundo apreço por artistas, me apaixono por obras – e até hoje lembro da emoção que tive ao visitar os cut outs de Henry Matisse expostos em uma sala minúscula na National Gallery, em Washington, uma das maiores provas de amor ao exercício de fazer arte. E o CasaShopping é um polo de promover este assunto, em todos os aspectos – e começo este post com a imagem acima, da exposição “O Portinari que sai da tela”, um exercício de materialização da pintura de Cândido Portinari através das esculturas de Sérgio Campos. Um belíssimo exercício de coragem, altruísmo e interpretação deste artista, que levou para o campo da escultura figuras presentes em várias obras do artista que nasceu na cidade de Brodóski, interior de São Paulo, e levou sua arte para as maiores coleções nacionais e internacionais.
E Sergio Campos conseguiu reinterpretar estes elementos de forma extremamente forte e poética, ressaltando os traços do pintor paulista em suas esculturas plenas de emoção e sentimento. Esta exposição apresenta obras inéditas deste escultor, não haviam sido vistas pelo mercado anteriormente, e é fascinante ver este processo de materialização da pintura em outra plataforma, outro suporte.
A imagem acima demonstra bem esta interpretação, a posição da figura central perfeitamente reproduzida em bronze, detalhes preciosos como a faixa de tecido na cintura, a torção da cabeça, tudo pensado para passar para uma outra dimensão a obra de Portinari. Eu fico pensando no prazer que deficientes visuais possam ter ao visitar esta exposição e “sentir” a obra deste artista interpretada por Sergio Campos, deve ser fascinante proporcionar esta experiência para quem é impedido fisicamente de ver a obra. Eu já citei aqui que o acervo da Dom Quixote é impressionante, mas eu desconhecia que eles tinham todas estas esculturas (são várias, merece uma visita demorada ao espaço), e foi um prazer descobrir este acervo impecavelmente exposto, situando as esculturas frente às obras que geraram estas peças. Em uma única palavra – imperdível...
Para quem entra no CasaShopping, um verdadeiro comitê de recepção – a sequência de esculturas de Francisco Brennand, que aqui neste local e com esta iluminação ganham uma dimensão quase mágica. Brennand é um dos grandes artistas brasileiros, sua obra está presente nas principais coleções mundo afora, e ele conquistou o mundo com seu trabalho eivado de significados, utilizando o barro, a cerâmica como matéria prima principal. Essas obras pertencem ao acervo do CasaShopping, são uma manifestação do gosto de Luiz Paulo Marcolini por este artista, mereciam portanto um lugar de destaque.
Aqui, minha imaginação correu solta, ao ver a nova coleção de tecidos feitos através da reciclagem de garrafas PET, criados pela Casa Julio. Imediatamente me lembrei de uma exposição que vi décadas atrás, do artista norte americano Robert Ryman. Infinitas tonalidades de branco em quadros das mais diferentes dimensões e formatos estavam espalhadas no Whitney Museum, em New York. Era uma exposição de tirar o fôlego dos apaixonados em arte abstrata, com aquela infinidade de brancos expostas em uma sequência maravilhosa. Tanto que, décadas depois, eu me lembrei desta exposição ao ver esta composição de tecidos acima, e a Arte tem essa qualidade, a de criar conexões para aqueles que usufruem dela com paixão.
Já na vitrine da Vivence (projeto da Cité Arqutietura), entre todo este mobiliário de tirar o fôlego de tão bonito (inclusive as poltronas em primeiro plano, que tive a oportunidade de utilizar na Casa Cor Rio 2023), destaca-se o quadro que, segundo o artista, foi inspirado na obra do grande Mark Rothko, o genial artista norte-americano de origem letã e judaica. Esta é uma referência muito forte, Rothko foi um dos grandes artistas do século passado, autor de uma obra intensa, abordando de forma única o uso da cor e da forma, o que resulta em uma experiência visual emocionalmente forte. Suas pinturas são principalmente caracterizadas por serem uma sobreposição de camadas de cores que se interpõem para criar uma sensação de profundidade e movimento. E eu sou apaixonado pela obra deste artista, portanto a referência a ele me é muito particular.
Fazendo outra livre interpretação do tema, impossível não parar frente à vitrine da Natuzzi, com este painel em LED gigantesco, e não se lembrar da obra de Bill Viola. Primeiro, um aparte – a vitrine com apenas uma poltrona colocada de forma impecável, uma inteira e outra totalmente desmontada, é uma aula de visual merchandising da marca. E agora, a relação deste painel de vídeo imenso, que me lembrou na hora do artista que mudou minha percepção de arte para outras plataformas. Bill Viola foi um artista que criou o melhor conceito de videoarte, seus trabalhos conjugam instalações, vídeos e performances com resultados sempre acachapantes, onde ele geralmente trata de um entendimento complexo da questão “tempo”. Vi uma exposição dele poucos anos atrás, no SESC Paulista (SP), e voltei a esta exposição várias vezes, onde ficava alguns bons minutos frente a um vídeo gigantesco, onde um homem recebia um banho contínuo de água, era lindo, poético, impecável, forte e inesquecível – como é a boa arte.
Com o auxílio da IA, a RJ Sign criou um repertório muito particular de imagens que tomaram outra dimensão, ao serem colocadas em outro contexto. Como a Estátua da Liberdade acendendo um isqueiro, ou o David de Michelângelo de óculos – fruto da justaposição de imagens permitida por essa plataforma. Esses quadros não apenas discutem o formato acadêmico da Arte, como induzem a novas formas de criação, utilizando-se de imagens clássicas em novas proposições, enquadramentos ou situações.
E termino com esta imagem acima, uma proposta para o novo show room da Franccino Casa, onde tive a oportunidade de colocar obras que gosto muito – as pinturas sobre madeira de Marcus André, e este relevo branco, forte, intrigante, de Armarinhos Teixeira, ambos do acervo da A.Thebaldi Galeria. Eu não consigo conceber um ambiente forte de personalidade, sem o uso de boas obras de arte – que não precisam ser necessariamente caras, sendo originais já é um bom ponto. Eu tenho o hábito de misturar novos artistas a outros já consagrados em minha casa, acredito nesta grande geleia geral que a arte me permite executar. Meus únicos dogmas neste campo são a originalidade da proposta e a qualidade desta, ainda não cheguei a curtir arte efêmera, desculpem-me...
Voltaremos ainda a este tema, que é farto, muito vasto, abrangente como o mundo, universal e sempre fascinante. E, novamente...If nothing else, believe in Art !