Blog

Selvagem

Wair de Paula, Jr.


 
Recentemente, um pedaço de um videoclipe viralizou sobremaneira – um trecho da coreografia feita para a banda Jungle (vide Jungle – Back on 74 no Youtube) foi repetida à exaustão por um monte de gente – alguns com mais qualidade, outros sem esta, mas foi um assombro ver o número de pessoas, bailarinos ou não, dispostos a reencenar alguns segundos deste clipe. Não sei se era a coreografia deliciosa, a música idem, ou o conjunto da obra que provocou isso – estes novos tempos fluidos são inexplicáveis as vezes...
Pensando no nome da banda, que fez uma sequência de lançamentos deliciosa, todas com coreografias muito originais, descontraídas, daquelas que dá vontade de sair dançando pela casa, pensei em procurar produtos e cenários onde a selva fosse o tema. E tinha que abrir este post com este papel de parede e-s-c-a-n-d-a-l-o-s-o de tão bonito, da Orlean. Na verdade, é um painel desenhado à mão, que captura a exuberância da ilha de Phi Phi – e este sofá verde folha à frente contribuiu para deixar o cenário ainda mais bonito.

 

Minha amiga Bia Letieri, leia-se Avanti Tapetes, sabe que eu sou maluco por esta estampa de onça acima, que faz parte da coleção recente desta marca. Tanto, que ela colocou este tapete em sua casa e me mandou uma foto, acho que só para me provocar mesmo...e conseguiu, confesso. Esta estampa ficaria perfeita em meu quarto, que vai mudar de cor brevemente, e esta padronagem com estas cores vai ficar simplesmente perfeito com a composição que quero fazer. Eu adoro sair da cama e sentir um tapete macio aos meus pés, é um conforto que acredito já me dou o direito de ter...
 


Outra estampa da coleção, igualmente elegante – o modelo Namíbia, da coleção África, está absolutamente dentro das tendências previstas, esta volta às origens e uma dedicação ao que se produz no Hemisfério Sul. Eu me recuso a ter peles animais em casa (a não ser de vaca, pois ainda não virei vegetariano...), sou contra a exploração destes bichos para fins estéticos – impossível não se emocionar ao ver uma pantera correndo pelas pradarias africanas, ou lambendo os filhotes, em um dos inúmeros vídeos que a internet nos proporciona atualmente. Mas nada impede que estas belezas sejam fonte de inspiração, e – quando o resultado sai impecável como os tapetes acima, não é apenas um acerto, é uma maravilha.
 


O prato em formato e padrão de zebra acima, da Tutto per La Casa, é outro daqueles itens que compõem uma dose extra de charme e um certo caráter lúdico à decoração. Meu ex tinha uma pele de zebra autêntica em casa, e eu meio que evitava até pisar naquela pele. Tenho um livro do Peter Beard, fotógrafo que morou na África muitos anos (e fez um catálogo para a Pirelli maravilhoso...), e uma das fotos mostrava um campo do tamanho de um estádio de futebol repleto de peles de zebra, aquilo me causou um sentimento ruim – foi o estopim para eu não aceitar mais peles animais nem no vestuário, nem na decoração. Hoje conseguimos reproduzir peles com excelência, não precisamos abater animais indefesos e/ou em extinção para estes fins.
 


Saindo da fauna e voltando para a flora, esse pratinho/bowl também da Tutto per La Casa é extremamente delicado, uma manufatura muito bonita, cor deslumbrante, e vai entrar no acervo de objetos para a mesa de minha casa assim que eu ultrapassar a porta desta loja. Eu tenho uns pratos em formato de concha, azuis, em cerâmica, encomendados à um ceramista décadas atrás, que uso com muita parcimônia – pois são pesados e paradoxalmente frágeis. Essa já é mais leve, tamanho impecável para uma entrada – já penso noma mousse de salmão bem rosada, para criar contraste com o verde, e umas folhinhas de endro para compor o prato. Boas louças estimulam a criatividade do cozinheiro, tenham certeza...
 


Essa jarra com alça de cocos verdes lembra uma louça que adoro, Bordallo Pinheiro, uma cerâmica ancestral portuguesa, que leva o nome de seu fundador – Raphael Bordallo Pinheiro (1846/1905), que fazia uns pratos com peixes, crustáceos, frutos e flores de primeira grandeza. Meu grande e querido amigo Emanoel Araújo, um dos maiores artistas brasileiros e quem redefiniu o modelo de exposições no Brasil décadas atrás, quando era diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo, ao trazer a primeira grande exposição internacional para o Brasil – o genial Auguste Rodin – tinha uma coleção destas peças de primeira grandeza. Barroco, intenso, fruto de uma mão de obra criativa e extremamente especializada. E essa jarra – ainda do acervo da Tutto per la Casa – me lembrou a veneranda marca portuguesa.
 


No quesito “escândalo”, esse papel de parede da Orlean está no topo da lista. Uma verdadeira floresta em infinitos tons de verde, luxuoso até a última pincelada. Eu adoraria entrar numa casa e ver um papel de parede destes logo no hall de entrada, com um espelho ou uma obra de arte bem contemporânea na parede, estes contrastes são muito ricos e permitem infinitas interpretações.
 


E o que dizer da suavidade desta imagem, com flores absurdas, folhas quase em movimento e pássaros de toda ordem, também do catálogo da Orlean? Esse painel se chama Avalon, e eu tomei conhecimento dele através da coluna de um querido amigo, Marcelo Lima, que escreve para um dos maiores veículos de comunicação do Brasil. Este jornalista tem olhar acurado, texto que explica sem teorias desnecessárias o assunto em questão, e eu sempre estou atento ao que ele fala e/ou escreve. Eu ainda acredito na força do material impresso, talvez porque meus neurônios tenham se formatado a partir desta base, e a neurologia explica isso com bastante racionalidade. De novo – anseio em ver este tipo de solução nos projetos brasileiros, essa exaltação às nossas cores, nossa fauna, nossa flora. 
 


Nem sempre a inspiração tem que ser traduzida à íntegra. E essas esculturas de mesa (que eu enxergo como prováveis utilitários...) têm um formato que remete às Vitórias-Régias amazônicas – inspiração esta reforçada peça cor da peça. E, para quem teve a sorte de ver uma Vitória-Régia ao vivo, essa ligação é imediata. Estas, encontrei no acervo da Rosa Kochen, entre vários outros produtos que se inspiravam na natureza (inclusive uma coleção de luminárias de fibra vegetal maravilhosa...).


 
Do Studio Grabowsky, escolhi este prato acima – mas as cerâmicas em preto e branco que lembram árvores secas me soam igualmente excepcionais. Eu tenho um espírito acumulador no que tange aos acessórios para a casa – tenho muitos livros, muitos (muitos mesmo!) vasos das mais diferentes procedências, materiais e épocas, uma pequena infinidade de copos e taças, e eu uso tudo, não guardo nada – coloco flores, uso como centro de mesas, os vasos entram no bar, os objetos circulam pela minha casa, pois todos eles têm a minha cara, e – consequentemente – acredito que conversam entre si, como as plantas, animais, insetos, flores e rios conversam entre si na selva, em controlada harmonia.


 
E termino com estas mesas – que, assumo, já postei aqui antes – pelas quais sou apaixonado, desenho do talentosíssimo Luciano Santelli para a Ovoo. Executadas em quartzito verde amazônico, conseguem conjugar leveza no desenho aliado à um material extremamente pesado, ancestral, com um resultado poético, estético e dinâmico que me encanta. Esta mesa foi lançada na última coleção que coordenei para esta marca, e esses veios em infinitos tons de verde foram a inspiração para o nome da coleção – Gênese. Essa pedra tem uma ancestralidade visível, parece que foi sedimentada ao longo de séculos, milênios, que data da origem do planeta como o conhecemos, e o desenho de Santelli valorizou a matéria prima de forma sutil e extremamente elegante.

Eu não sou muito adepto da frase “do pó viemos, ao pó voltaremos”. Acredito que viemos da selva, das matas, rios e pedras, e temos que tomar conta da natureza para que possamos voltar a ela um dia, nem que seja sob outra forma. Mas é um retorno à uma origem muito inspiradora.

Compartilhe


Comentários