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Sobre as Origens

Wair de Paula, Jr.

Adoro o trabalho de um fotógrafo nascido em Mali, Seydou Keita. Sou literalmente alucinado por sua obra, e ele ficou conhecido principalmente por retratos de pessoas e famílias  (principalmente malinesas) entre os anos 1940 e início dos anos 1960, e suas fotos revelam uma elegância insólita, ao misturar estampas na parede com as estampas das vestes dos fotografados, em poses sempre clássicas, um trabalho fenomenal mesmo. E me lembrei dele ao conhecer a obra de Robério Braga, na Urban Arts. Ele lida com questões de ancestralidade ao mesmo tempo que provoca o olhar em padrões caleidoscópicos, de resultado fascinante. Eu teria uma roupa como a cima com muita vontade, achei a estampa um absurdo de linda...

Robério imprime uma poética ancestral em suas obras, ao mesmo tempo em que revela a modernidade presente através das cores e da proposta cênica. Isso vem a calhar com o momento histórico atual, onde as artes e o design se voltam para os povos originários e suas manifestações artístico/culturais, tirando um pouco o foco eurocêntrico que era vigente até muito recentemente.

A valorização destes valores ancestrais, aliada à tecnologia que temos atualmente, pode gerar produtos de incrível resultado estético. Impossível não se render à beleza do cesto acima, obra de Elisa Atheniense para a Ekko Home. Um trabalho delicado, manufatura de altíssimo quilate, que dialoga perfeitamente com as fotos acima tanto em estética quanto em referências. Recentemente, tive a oportunidade de criar um produto com sobras de couro da indústria, que deu um trabalho imenso mas de resultado extremamente elegante, e foi baseado em dois princípios – um, o da sustentabilidade, ao propor a reutilização de um material nobre que seria descartado. Outro, o trabalho manual feito pelas mulheres que trabalham com fuxico. O resultado não lembra esta inspiração, mas não posso negá-la...

Esse retorno aos povos originários e suas manifestações artísticas, além de tudo, voltam a fomentar a mão de obra especializada, em importante e significativo processo econômico social. Como prova, o deslumbrante tecido acima, da coleção Ravenala O&L da Orlean. Com cores vibrantes, os desenhos são produzidos com fios opacos e bordados à mão. Desta forma, cada tecido é um testemunho da habilidade artesanal destes profissionais , que despendem horas de trabalho para trazer vida a estas verdadeiras obras primas.

Tanto faz se o resultado é requintado ou rústico, o importante é ver que, através desta ideia, estamos revalorizando a mão de obra, geralmente fora dos grandes centros e muitas vezes em condições sociais muito aquém do desejado. A luminária Donut, em tiras de ratttan, da Dracena Home, é mais uma prova desta reconquista do fazer manual, da valorização dos princípios básicos do design. E é elegante até o último trançado...

Este movimento vem sendo sentido há algum tempo – as almofadas acima, da Quintal de Madame, já estão aparecendo há algumas coleções nas melhores marcas. Trançadas, com texturas diferentes, relembram tempos mais calmos, de mulheres fazendo tricô em uma tarde calma enquanto tomam café. Eu gosto de pensar que estes produtos podem trazer a lembrança de tempos mais tranquilos, menos urgentes. E aqui uma observação – pirei no espelho em forma de cacto na parede, achei genial!

O puff Candy, também da Quintal de Madame, além da óbvia relação com o tricô, me lembra o conto de Rapunzel, que fazia longas tranças com seus sedosos cabelos. Mais uma prova de que as informações ancestrais se cruzam e se reencontram para gerar produtos de alto poder sensorial – além de conforto, claro.

O artista Zemog trafega em um universo que, conceitualmente, não é novo – o do objet trouvé, ou objeto encontrado, um termo usado nas artes visuais para designar obras feitas com objetos encontrados pelos artistas, que despertam algum interesse neles e os ressignificam criando novos produtos com velhos produtos. Esta escultura (e outras deste artista, do acervo da A. Thebaldi Galeria), que tanto pode estar sobre uma superfície como também pendurada em uma parede, é feita inteirinha de tampinhas de garrafa, e a vontade de passar a mão nesta peça e sentir sua textura é irresistível. E eu veria uma escultura destas em um cenário de Seydou Keita facilmente, pois apesar de contemporânea dialoga perfeitamente com aqueles cenários ancestrais.

Impossível ver esse balanço, da Anexo Rio, e não se lembrar das redes dos povos originários brasileiros. Aqui, o elemento lúdico ganhou um adendo estético poderoso, e esse macramê feito com corda náutica alia processos ancestrais a um produto absolutamente contemporâneo, em perfeito diálogo.

É do designer Sergio Matos a poltrona Piatã acima, feita também em macramê (e também da Anexo Rio). Sergio já tem um trabalho fundamentado na valorização da mão de obra ribeirinha da região amazônica, e aquele cenário deve ser uma fonte inesgotável de referências e inspiração. Aqui, elegância se une a história, em um material totalmente moderno, que resiste ao tempo. Eu sou fã do trabalho de Sergio há muito tempo, assumo. Seu trabalho é coerente e extremamente original, baseado em princípios éticos e de capacitação profissional, ou seja – só valores positivos.

Na Guilha, pincei esta almofada acima, um bordado vigoroso, quase primitivo, de resultado impecável e muito, muito decorativa. Esta loja já tem tradição de produtos feitos à mão, seja em suas cortinas, colchas ou almofadas, estão no mercado faz muito tempo e a cada dia mais mostram produtos mais elaborados, mais sofisticados.

E, novamente, o saber ancestral se funde à modernidade, neste tapete da Trama, feito em corda náutica dupla face. Este tapete pode ser feito sob encomenda, nas cores e medidas que forem mais adequadas ao seu projeto, à sua casa. Um produto de alta qualidade, com características que vem de outros tempos, outras eras.

 

Estamos vivendo um momento especial, onde estes encontros de épocas e origens começam a frequentar mais assiduamente nossas casas. Isso possibilita uma infinidade de opções, transformando cada habitat em único, especial. E é para isso que as lojas do Casashopping trabalham – para deixar sua casa única, especial.

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