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Cores Encantadas

Wair de Paula, Jr.

Acabei de ler recentemente o livro Torto Arado, um romance brasileiro de 2019, escrito pelo autor baiano Itamar Vieira Junior. E ainda estou sob o impacto da história narrada por duas irmãs, Bibiana e Belonísia, passada em uma fazenda no sertão da Chapada Diamantina. O livro não é simplesmente magnífico, é uma das melhores obras da literatura nacional que li nos últimos tempos. A narrativa de Itamar é fluente, onírica, e o título deste post veio do que as personagens chamam de “encantados”, as entidades espirituais que rondam o romance. E esse livro descreve os infinitos tons da terra local, na seca, nas chuvas, na estiagem, com uma qualidade literária que fazia tempo não lia. E as cores dos tapetes da Avanti, que abrem este post, parecem terem saído das páginas deste Livro (com maiúscula, sim!). Os tons de terra molhada, terra seca, barro vermelho – eu adoraria dar os títulos para as cores desta coleção da marca, do jeito que estou poeticamente inspirado por essa leitura.

Eu gosto destas relações, essas sinapses culturais – um livro inspira a percepção de uma coleção de tapetes, ou dos vasos acima, do Studio Grabowsky. A literatura, assim como a música, pode abrir canais de percepção fora dos ritmos normais, e eu quero/pretendo ser eternamente aberto a essas influências e conexões. Acredito na força da cultura como elemento de aumento da sensibilidade humana, em todos os aspectos. A cultura é um elo libertador, o artifício supremo que pode fazer com que uma sociedade se torne mais justa e igualitária.

A imagem acima -um quadro da RJ Sign - me remeteu diretamente a algumas passagens do livro. Tem uma luz maravilhosa, parece realçar a beleza do seco, ressignificando o árido em algo mágico, literalmente “encantado”. A sensibilidade é algo que tem que ser continuamente exarcebada – perceber a beleza existente em um simples galho seco, que, sob a iluminação certa, pode ganhar outra intensidade, outro status. Talvez eu esteja ainda sob efeito da mágica do livro, pode ser. Mas é inegável a força dramática da imagem acima, que ficaria perfeita sobre uma parede cor de terra seca.

A placa de porcelanato acima, da Mais Revestimentos, de proporções acachapantes, também parece ter saído de uma das páginas do livro. Essas cores de terra molhada, com suas manchas, dão um caráter de unicidade ao produto que me atrai sobremaneira. E as proporções deste produto também são atraentes, não apenas sua superfície, mas o tamanho impressiona.

E, na mesma loja, a bancada acima, feita com o mesmo material. Simplesmente maravilhoso...Uma bancada de formato simples, elegante, bem estruturada, de proporções perfeitas, e nesta cor terrosa...não sei se tenho elogios suficientes para qualificar este produto. Sua aparente simplicidade é perfeita, proporções equilibradas, contemporânea, chic até a última gota. Não sei o porquê, mas me lembrou um pouco os fogões a lenha existentes no interior de São Paulo, quando eu era criança – talvez por causa da junção da cor de terra, típica daqueles fogões, com os metais pretos, toda uma história de design ressignificada através do repertório e da memória.

Na Galeria Hahti encontrei o tapete acima, textura e cores perfeitas para o tema. E uma maciez insólita para um tapete “sem pelos”, e novamente fui remetido ao passado, quando minha mãe fazia o tricô das malhas de minha família, geralmente ao perfume de um café quente. Sempre achei mágico o vai-e-vem das agulhas gerando aquela superfície tomando forma, fosse uma manta, fosse uma blusa de frio. Eu ainda acredito piamente que se os homens soubessem fazer tricô ou crochet o mundo seria um pouco mais manso, e caloroso. E bonito. E mais uma infinidade de adjetivos, de tal forma que eu mesmo estou pensando em aprender a fazer tricô. De verdade...

Ainda no tema tricô/crochet, as almofadas da Dracena Home conjugam elegância, conforto e aquele quociente handmade que faz o sucesso de qualquer marca. O tema cannage da almofada mais clara foi quase que onipresente no último – e badaladíssimo – desfile da Dior Homme, sob a batuta de Kim Jones, onde os manequins literalmente surgiam na passarela através de elevadores hidráulicos individuais. Foi mágico ver a tecnologia ser utilizada para apresentar tão alto nível de ourivesaria têxtil, nos mesmos moldes da almofada acima. Quem diria que a Chapada Diamantina iria se relacionar com a padronagem da centenária casa de alta costura francesa...

O ambiente acima, projetado pelas queridas Natalia Paes e Simone Meira, para a Artefacto, sob a sombra de uma cobertura metálica, ostenta as cores onipresentes ao longo do livro que originou este post. Um espaço feito para o convívio, para longos bate-papos, drinks ao cair da tarde, ou namoros à luz da lua, aliados perfeitos do conforto dos móveis da marca. Eu tirei essa foto em uma tarde de inverno carioca, sob um sol cálido com gatinhos passeando pelas calçadas. Tive ímpetos de me jogar neste sofá para reler alguns trechos do livro, tomando uma xícara de café quente e licor de jenipapo, uma das frutas citadas no livro.

E, na loja Rosa Kochen, um carrinho cheio de cerâmicas nas mais diversas formas, texturas e tonalidades. Cerâmica é uma das mais antigas formas de arte bidimensional existentes na face da Terra, a argila é um dos elementos mais primevos existentes na história. E absolutamente dentro dos mais contemporâneos conceitos de sustentabilidade, pois ela vem da terra e pode retornar ao mesmo estado infinitamente. Tenho a sorte de conhecer alguns ceramistas das mais diferentes práticas e estéticas, mas até hoje ainda acho mágico um montinho de barro virar algo tão utilitário, tão elegante.

 

Um livro com uma história magnífica orientou toda a diversidade presente neste post. Essa é a beleza da Arte, as inúmeras interpretações que um material de qualidade e alta originalidade pode gerir. Claro que temos que estar abertos para essas percepções, e para estas infinitas ligações entre arte e cotidiano. Tem uma frase em inglês, intraduzível, mas perfeita para finalizar este post – Earth withou Art is just Eh...

 

@avantitapetes / @studiograbowsky / @rjsign / @maisrevestimentos

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