A Casa Cor é o maior evento do segmento no país. Envolve milhares de pessoas em seu desenvolvimento, entre profissionais e empresas direta ou indiretamente ligados ao evento. E este ano a Casa Cor SP inovou na localização : montou seu circo (no melhor sentido da palavra) em pleno Conjunto Nacional, um edifício marco da cidade, localizado na confluência da Avenida Paulista com Rua Augusta. Projeto do arquiteto David Libeskind, e erigido na segunda metade dos anos 1950, o Conjunto Nacional é um misto de Galeria/Edifício Comercial/Edifício Residencial, e que durante anos ostentou em sua cobertura um imenso relógio patrocinado por um banco. Desta gigantesca estrutura, a Casa Cor se apossou em uma área de 9 mil metros quadrados, que estava fechada fazia muito tempo. E o resultado é surpreendente.
Começa com o projeto acachapante, de tirar o fôlego, de Roberto Migotto (@robertomigotto) para a Deca. Não há foto que consiga transmitir um pouco da grandiosidade e qualidade deste espaço.
Sob o tema de um Spa, este talentoso arquiteto erigiu uma estrutura solene, sóbria, com muita madeira e muitas plantas, iluminação extremamente estudada e delicada, e poderia realmente ser um SPA de altíssimo luxo, localizado em qualquer cidade poderosa do planeta. É uma aula de competência, de cuidado, de criatividade e, principalmente, de beleza. Literalmente um ponto alto na história repleta de pontos altos deste arquiteto.
Tenho grande admiração pelo trabalho do arquiteto Marcelo Salum (@marcelosalum). Ele sempre surpreende, e até hoje me vem à memória um espaço totalmente amarelo que ele fez, um amarelo quase cítrico, difícil, e o espaço era simplesmente maravilhoso. Aqui ele misturou ousadia e história ao homenagear a grande dupla do mercado, Attilio Baschera e Gregório Kramer (que faleceu em 2019 aos 79 anos de idade). Eram queridos amigos, tive a oportunidade de jantar no famoso apartamento do casal em Higienópolis, e eles foram os criadores de uma das marcas do segmento mais originais que já tivemos – a Larmod, uma empresa de tecidos de decoração, com padronagens extremamente criativas (boa parte delas criada por Attilio), que depois virou AGAIN e cultuada por 10 entre 10 profissionais do mercado. Aqui, Marcelo resolveu homenagear a dupla em cada pedacinho de sua Casa Coral – desenhos de Attilio ocupam várias paredes, o uso fantástico dos tecidos à maneira da Again, um acúmulo de objetos das mais diferentes procedências e estilos, tudo extremamente equilibrado, uma ode ao trabalho destes dois criadores fantásticos.
Cada canto deste espaço oferece surpresas, ainda mais para um espectador como eu, que tive a sorte de conviver com Attilio e Gregório por bastante tempo. É um espaço dinâmico, colorido, completamente fora da curva estética que geralmente reina na Casa Cor, e de uma generosidade tamanha que emociona quem conhece a história (e não storytelling) por detrás deste projeto. Um espaço inesquecível.
Outro espaço surpreendente é a Casa Eté Duratex, projeto de Mauricio Arruda (@mauricioarruda) e seu sócio Fabio Mota (@fabiomota). Uma casa real, “morável”, deliciosa, onde em 150m2 cores e estilos se mesclam com uma harmonia de mestre. A cozinha de mármore vermelho, mais as cadeiras em azul royal e o lustre bordô já dão mostra da qualidade deste arquiteto em misturar cores e sair da covardia do bege. E a sacada de subir o piso de todo o ambiente para criar uma área de estar “afundada”, sob a forma de um sofá típico dos anos 1970/1980, foi um acerto de Gênio. Imperdível.
Adorei o trabalho de Otto Felix (@ottofelix), uma caixa de tijolo de vidro com uma cortina alta, insólita, criando uma iluminação elegante, quente, maravilhosa mesmo. A distribuição do espaço (dedicado a um patrocinador) é outro ponto alto deste ambiente. E essa imensa caixa de tijolos de vidro dialoga com a arquitetura original de Libeskind em perfeita sintonia. E eu adoro quando vejo um espaço cheio de idéias que eu adoraria ter tido...
Outro espaço bastante surpreendente – aliás, muito surpreendente – é o Restaurante MYK, feito por Ricardo Abreu (@ricardoabreuarquitetura). Foi uma surpresa em vários aspectos, principalmente porque eu não tinha gostado dos espaços feitos por esse profissional em duas edições anteriores da Casa Cor. Aqui, ele acerta a mão com competência e extrema originalidade.
É um ambiente funcional, por se tratar de um restaurante. E altamente cênico, com jardins compostos por verdadeiras floreiras revestidas em cerâmica com uma aparência gasta, o teto que serpenteia o ambiente de forma lúdica, as “ilhas” formadas por esses volumes, tudo aqui induz a uma atmosfera grega – e o storytelling deste espaço é absolutamente crível, coerente.
O jovem arquiteto gaúcho Juarez Cruz (@_juarezcruz) conseguiu marcar presença de forma positiva e dramática em seu espaço 22#ZERO1. Uma arquitetura solene, o uso de duas cores – preto e branco – a iluminação precisa, e a coerência com seu discurso : ”nem muito, nem pouco, mas o suficiente.” Móveis extremamente bem escolhidos, poucas e excelentes obras de arte, um projeto pensado em detalhes.
A parede com esquadrias e uma coleção de potes confere mais drama ao ambiente, e a trama do teto desenhada por este talentoso arquiteto faz um diálogo reverente à arquitetura original do edifício. Um projeto notável.
E, last but not least, o espaço do mega-talentoso Nildo José (@nildojose), baiano que aportou sua régua e compasso em São Paulo faz algum tempo. O Espaço SERtão é de uma beleza, de um lirismo difícil de ser explicado. Utilizando-se das cerâmicas Portinari (@ceramicasportinari) de forma extremamente original e elegante, Nildo faz uma ode ao sertão, uma elegia que aponta esta região brasileira como fonte inesgotável de vida.
As cores do sertão dominam este ambiente, e a seleção ultra-criteriosa dos móveis, objetos e obras de arte fazem com que a arquitetura se imponha sobre o todo. É um deslumbre de recursos inteligentes, a distribuição dos espaços generosa e dinâmica, e ainda tem um bar “enterrado” em uma parede curva que é uma beleza. A iluminação é outro acerto, com uma projeção extremamente poética em partes do piso deste espaço. Literalmente, outro espaço de tirar o fôlego.