Background Image
Table of Contents Table of Contents
Previous Page  70 / 164 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 70 / 164 Next Page
Page Background

“Esse menu é uma

referência às muitas

viagens e descobertas

dos portugueses: procurei

fazer uma panorâmica

desse percurso”

Fotos: BoaOnda

Apesar de suas casas oferecerem experiências

gastronômicas distintas, todas elas expressam a

sua enorme paixão pela cozinha regional. E haja

criatividade. Dificilmente um mesmo prato é visto no

cardápio de outro estabelecimento seu. Cada casa traz

a sua assinatura, inconfundível, e oferece pratos que

só são encontrados ali. Receitas tradicionais, como as

onipresentes azeitonas, por exemplo, que, nas mãos

de Avillez, espocam na boca e podem vir escoltando as

favinhas com coentradas. E mais: pataniscas douradas,

os “pastéis” de bacalhau crocantes e toda a sorte

de pratos com as postas desse peixe seco e salgado,

que chega da Noruega. Dos mares portugueses, o

gadus morhua

, o “rei do bacalhau”, passa longe. Mas

cozinha portuguesa sem bacalhau, é impensável.

Belcanto foi o seu primeiro restaurante, o que o

projetou mundo afora. É o seu espaço mais clássico,

elaborado, sofisticado. Tem duas estrelas Michelin e

é considerado um dos 100 melhores restaurantes do

mundo pela prestigiada The World’s

50 Best Restaurants.

Foi na companhia dos donos da Quinta da Bacalhoa,

tradicional vinícola portuguesa, que desfrutei de uma das

melhores refeições da minha vida, o menu Descoberta,

feito, servido e explicado pelo próprio José Avillez.

Inesquecível, páreo só para o Noma, na Dinamarca,

restaurante que, por três anos consecutivos, foi eleito

o melhor do mundo. Foram 12 serviços, um “passeio”

pelo melhor da cozinha portuguesa. “Esse menu é

uma referência às muitas viagens e descobertas dos

portugueses: procurei fazer uma panorâmica desse

percurso”, disse-nos o

chef

, enquanto mandava para a

mesa entradinhas, como uma trilogia de manteiga de

cores e sabores impensáveis. Nossa viagem começou

com “pedras” de fígado de bacalhau, ovas de trutas

e nacos de peixe salgado. Todos servidos sobre pedras

do rio Douro aquecidas. O buquê de atum dos Açores

veio depois, na verdade, um vaso de flores cujos pistilos

equilibravam os pedaços de atum. O frango assado

chegou irreconhecível, disposto em um pote de barro com

sobras de cortiça. Já os camarões VG, os “carabineiros”

chegaram salpicados de cinzas de alecrim. Teve,

ainda, xerém de amêijoas com bacalhau, e robalo com

lingueirão, iguaria apreciadíssima, conhecida também

como peixe navalha. E um cozido em versão ultramoderna

e a cabidela vegetal, rabo de boi com enguia defumada,

a mais ousada das combinações. O Descoberta me fez

compreender a cozinha de Avillez, onde receitas clássicas

são modernizadas, mas com muito respeito.

Cabeça de porco, buquê de

flores com cone de atum, pedras

de bacalhau com grão

MAGAZINE CASASHOPPING

70

• •

gastronomia