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com vista para o mar e o horizonte infinitos entre paredes

de alvenaria pintadas de branco, colunas de concreto

aparente e muita madeira acolhendo os visitantes sob o

telhado revestido por telhas vermelhas.

Não muito longe dali, fica a Capela da Boa Nova,

onde Álvaro Siza se casou. Ele recorda que, na época da

construção da Casa de Chá, ficou tão ligado ao lugar

que escolheu a capela para se casar. Viveu com a mulher,

Maria Antônia Marinho Leite Siza, uma breve e dramática

história de amor, que terminou em 1973, quando ela

morreu em seus braços aos 33 anos. Maria Antônia teve

dois filhos com o arquiteto, Joana e Álvaro, e deixou uma

obra de mais de mil desenhos e alguns quadros a óleo.

Aproveitando a experiência da Casa de Chá Boa

Nova, o arquiteto fez as Piscinas de Leça da Palmeira,

em Matosinhos, em 1966. Na ocasião com 26 anos,

Siza percebeu a ligação fundamental entre arquitetura

e paisagem. Com um mínimo de área construída

praticamente esculpiu duas piscinas no penhasco.

Tanto a Casa de Chá como as Piscinas das Marés são

consideradas monumentos nacionais desde 2011.

Um de seus trabalhos mais famosos foi a reconstrução

do Chiado depois do incêndio de 25 de agosto de

1988 que, em Lisboa, danificou 18 edifícios. Álvaro

Siza reconstruiu o lugar com todo o cuidado para que

os elementos novos não prejudicassem o espírito da

arquitetura pombalina e até mesmo as intervenções

que nela ocorreram ao longo dos anos. Manteve, dessa

forma, a identidade, a história e a vida do Chiado.

Formas minimalistas, janelas geométricas emoldurando a

paisagem externa, Álvaro Siza é conhecido por luminosas

construções em concreto branco. Segundo seu amigo e

parceiro de muitos trabalhos, Eduardo Souto de Moura,

suas obras são “como gatos se espreguiçando ao sol”.

Para Siza, o desenho ajuda a estabelecer o diálogo

com a mente. “Costumam chamar isso de ‘

thinking

hand

, mão pensante’, mas prefiro a expressão ‘mão

provocadora’”, diz. É a partir de

sketches

que as soluções

vão surgindo. São igualmente incríveis seus autorretratos

e registros de situações cotidianas, como suas próprias

mãos sobre a mesa de um café.

“Dizem que desenho em cafés”, afirma, “que sou

um arquiteto de pequenas obras, talvez, por isso,

as mais difíceis. É verdade que desenho em cafés.

Não como Toulouse Lautrec em cabarés. A atmosfera

de um café é das poucas que me permite ficar anônimo

e me concentrar”.

Nascido em Matosinhos, em 1933, foi premiado com o

Pritzker em 1992 e duas vezes com o Leão de Ouro em

Veneza. A primeira em 2002, pelo projeto da Fundação

Iberê Camargo, em Porto Alegre, e a segunda, em 2012,

pelo conjunto da obra. Quando esteve no Brasil, revelou

que para ele o país era um mito, pois cresceu ouvindo

do pai histórias sobre as aventuras do bisavô Júlio Siza,

fotógrafo, que morou em Belém no final do século XIX.

Siza formou-se na antiga Escola de Belas Artes da

Universidade do Porto em 1955. Entrou para a faculdade

querendo ser escultor, mas acabou se apaixonando por

arquitetura. Desde cedo, revelou um talento especial para

construir em terrenos considerados inviáveis. A Casa de

Chá Boa Nova (1963), erguida no penhasco da costa de

Matosinhos, é um exemplo disso. Segundo o arquiteto,

é o telhado horizontal que unifica os acidentes rochosos.

Rochas que ele desenhou uma a uma começando, assim,

um diálogo entre arquitetura e natureza.

Quem entra hoje na Casa de Chá Boa Nova, restaurada

por Siza em 1991, encontra um restaurante de frutos do

mar sob a batuta do

chef

Rui Paula. Um lugar mágico

“Costumam chamar isso de

‘thinking hand, mão pensante’,

mas prefiro a expressão

‘mão provocadora”

Álvaro Siza

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