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Hiato criativo que persiste até os anos 1950 com o

surgimento de uma nova vertente no cinema espanhol,

enfatizada por temáticas mais emotivas, religiosas e

protagonismo infantil. Bom exemplo é o filme “Marcelino

Pão e Vinho” (1954), do húngaro Ladislao Vajda, e

interpretação memorável de Pablito Calvo.

A década de 1960 traz outra virada à sétima arte por

lá. Entra em cena uma geração de cineastas que joga

holofotes críticos sobre a Espanha. Carlos Saura é um

deles. Prolífico criador, transitou do neorrealismo aos

simbolismos e metáforas que camuflavam sua posição

ideológica contestatória como “Ana e os Lobos” (1972),

“Cría Cuervos” (1975), “Olhos Vendados” (1978) e

“Mamãe Faz 100 Anos” (1979).

Após a era franquista, Saura solta as amarras ideológicas

e se deixa levar pela música e pela dança. Sua trilogia

de flamenco – “Bodas de Sangue”, “Carmen” e “Amor

Bruxo”, ditou o ritmo, seguido adiante por “Tango” e

outros filmes do gênero.

Explorando um viés mais subversivo de linguagem

artística, Luis Buñuel é outro autor essencial ao

entendimento e valorização do cinema espanhol.

Iconoclasta, revolucionário, provocativo, desconstruiu

realidades e gerou seu próprio mundo imagético.

Associado ao movimento surrealista, estendeu suas

criações pela Espanha, México e França.

Numa dobradinha surreal com o pintor espanhol Salvador

Dalí, o filme-colagem de imagens oníricas intitulado

“Um Cão Andaluz” (1929) é considerado pela crítica um

dos mais importantes curtas-metragens do cinema.

A segunda colaboração com Dalí acontece em “A Idade

do Ouro” (1930), um ataque à repressão sexual e à religião.

Entre suas obras emblemáticas desvela a vida miserável dos

meninos de rua na Cidade do México em “Os Esquecidos”

(1950), mas é na sua visão desafiante aos dogmas cristãos,

como “Nazarin” (1958), “O Anjo Exterminador” (1962) e

“Simão do Deserto” (1965), que esbanja inventividade.

É de “Viridiana” (1961) a sequência dos mendigos à mesa

numa releitura da Última Ceia, de Leonardo da Vinci.

Fetiches e erotismo combinados a culpas e conflitos

morais são temáticas que sobressaem em fartas doses

nas concepções do cineasta. Escracha a burguesia, ironiza

as relações sociais, debocha das tradições da família e da

propriedade. “A Bela da Tarde” (1967), laureado com o Leão

de Ouro, em Veneza, tem Catherine Deneuve interpretando

uma elegante madame, frígida na cama do marido, mas

cheia de fervor sexual nas tardes que passa, secretamente,

num prostíbulo, atendendo clientes muito estranhos.

Longevo e proativo, Manoel de Oliveira internacionalizou

o cinema português através de uma filmografia marcada

por obras-primas

O olhar metafórico de Carlos Saura sobre

a história político-social da Espanha

resultou em filmes da grandeza artística

de “Cria Cuervos”

Espanhol naturalizado mexicano, Buñuel fez nas telas

uma poesia subversiva e transgressora sublinhada por

filmes antológicos como “A Bela da Tarde” e “O Discreto

Charme da Burguesia”

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