Magazine 58 - page 126

TEXTO: ANTONIA LEITE BARBOSA | ILUSTRAÇÃO: SILVANA MATTIEVICH
C
onheço um adulto que coleciona quebra-cabeças.
Seu hobby é montar
puzzles
e o desafio é que
sejam cada vez maiores, com muitas mil peças.
Na última Copa do Mundo, ele foi um dos torcedores
mais empenhados em completar o álbum de figurinhas
das seleções. Frequentava pontos de troca e montou um
grupo na Internet. Suas camisetas de lazer têm estampa-
do o escudo do Batman, do Super-Homem ou de algum
outro personagem de HQ. Na sua sala de casa tem um
totó, mas, se tivesse mais espaço, certamente acrescen-
taria uma mesa de sinuca, outra de pingue-pongue e, é
claro, um fliperama. Ele pratica aeromodelismo e adora
soltar pipa. A preparação da pipa em si é um programão.
Suas festas de aniversário têm traje obrigatório: fantasia.
Colecionar é seu vício. Nas prateleiras do quarto estão
alinhadas latinhas de cerveja do mundo todo e réplicas
perfeitas em miniatura de carrinhos luxuosos.
É importante esclarecer que não são apenas os rapazes
que se transformam em adultos infantilizados. Quantas
são as meninas que viram mulheres, mas não se desfa-
zem de seus bichos de pelúcia? E continuam agarradas
a uma naninha, aquele travesseirinho inseparável, en-
cardido e surrado, companheiro de uma vida. Ou são
daquelas que passam o dia enrolando o cabelo com o
dedo ou roendo as unhas? Mulheres bem-sucedidas,
mães de família, que não conseguem comer nada mui-
to elaborado ou sofisticado, preferem mil vezes uma
comidinha simples, trocando a vitela pela carne moída,
uma taça de vinho por um refrigerante.
Os exemplos acima são apenas representações externas,
inofensivas. O problema é quando elas acompanham um
comportamento que não tem a menor graça. Quem já
ouviu falar em síndrome de Peter Pan, do “homem que
nunca cresce”? A história provavelmente todo mundo já
conhece: o menino que se recusa a crescer e envelhecer e
vive no mundo encantado da Terra do Nunca. O psicólogo
americano Dan Kiley aproveitou o gancho e, na década
de 80, escreveu um dos maiores sucessos na linha de li-
vros de autoajuda. Em “A Síndrome de Peter Pan”, eles
são inseguros, imaturos, dependentes, irresponsáveis, têm
acessos de raiva e dificuldade em manter um compromis-
so afetivo. Apesar de não demonstrarem, costumam ter
baixa autoestima. Em relação ao dinheiro, gastos e com-
promissos, comportam-se como crianças na fase do ego-
PETER PAN
VIVE!
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