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A cor do Carnaval

Wair de Paula, Jr.



Muito tempo atrás, montando o showroom de uma marca em Miami, uma jornalista me perguntou se eu tinha um método ou conceito para compor todo aquele espaço. Eu disse que me inspirava nas escolas de samba cariocas, que tem uma criteriosa mistura de cores e volumes ao longo de sua passagem pela avenida, e esse depoimento teria viralizado se não tivesse sido proferido antes das redes sociais. Lembrei-me disto ao ver o painel Seychelles, produzido pelo Estudio Orlean para a mesma marca. As cores da Estação Primeira de Mangueira deslumbrantemente distribuídas, em composição elegante, poética, exótica, simplesmente maravilhosa. Aliás, a Orlean está cheio de propostas deste naipe, vale a pena conhecer o portfólio deles.

Igualmente referencial à Mangueira, a obra acima, que encontrei na Galeria A. Thebaldi, obra de Petrillo. Na verdade, são três telas sob este mesmo tema, uma mais linda do que a outra. Eu literalmente me apaixonei por essas obras, apresentam um romantismo sutil nestas cores desmaiadas, me remeteu diretamente ao melhor da pintura impressionista produzida entre o final do Século XIX e começo do Século XX. São obras grandes, o que aumenta o impacto destas, com passagens de cores extremamente elegantes em composições impecáveis, cirúrgicas.

Já o prato para petiscos da respeitadíssima marca Le Creuset, do acervo da Spicy, me lembrou as cores do pavilhão do Salgueiro, cuja bateria não recebe o nome de “Furiosa” impunemente. Quem já teve a oportunidade de estar frente a frente à esse coletivo de ritmistas e músicos de primeira grandeza seguramente concordará comigo. O Salgueiro repousa no panteão das mais antigas escolas de samba do Rio de Janeiro, com desfiles memoráveis – e a bateria nota 10 de sempre.



Paulinho da Viola, Marisa Monte e outros grandes artistas brasileiros defendem as cores da Portela – o azul e branco é outra das maiores referências cromáticas no carnaval carioca. E eu encontrei as cores desta escola no tapete da Trama, na foto acima. Uma composição feita para um quarto de criança – e acredito que esta criança deva ter uma infância muito feliz e plena, aproveitando a beleza deste tapete. Eu, até muito recentemente, tinha o hábito de ler sentado no tapete de minha sala, entre xícaras de café ou doses de Bourbon. E este tapete garanto – tem a maciez perfeita para isso.

A gravura acima, autoria do grande mestre Francisco Brennand, o gênio pernambucano, eu encontrei no acervo maravilhoso da Dom Quixote Galeria. E esta obra tem as cores da Unidos da Tijuca, uma escola onde já tive a oportunidade de desfilar por duas vezes. Brennand é mais conhecido por seu trabalho em cerâmica, o Casashopping tem três esculturas maravilhosas deste artista exposta sob a Onda Carioca, mas seu trabalho gráfico ou de pintura é igualmente poderoso. Eu achei o tema desta gravura intrigante, uma composição surpreendente.

São Paulo já foi cantada como “o túmulo do samba”, porém o carnaval desta cidade tem crescido. E uma das escolas mais conhecidas – a Vai-Vai, ostenta as cores preto e branco. Me lembrei das cores da bandeira desta escola ao ver o maravilhoso tapete acima, de autoria de Erica Salguero para a Santa Mônica Tapetes. De nome Ruptura, sua inspiração vem do espírito revolucionário da Semana de Arte de 1922, que rompeu com uma série de dogmas artísticos vigentes para propor conceitos de alta brasilidade. Este tapete tem um apelo dramático que me arrebatou...

Preto e amarelo são as cores da São Clemente, e também são as cores predominantes nas obras acima, da RJ Sign. Eu gosto muito desta composição, a poesia da imagem ao centro em pleno contraste com os blocos de cores das obras ao lado, contraste este reforçado pela obra gráfica. Eu curto muito esta mistura de estilos diferentes, criando um conjunto harmônico e altamente decorativo.

O jogo de cama acima, lindo, de execução primorosa, está exposto na Artelassê. E o verde e branco, acrescido do dourado, são as cores da Imperatriz Leopondinense. Eu estou numa fase verde, utilizei esta cor em vários trabalhos recentes, seja nas paredes, seja nos móveis. E estes lençóis e fronhas entraram imediatamente no meu wish list. E a delicadeza do monograma bordado ao centro denuncia a preocupação da marca em oferecer produtos únicos.

Carnaval sempre é um bom tema, seja para conversas em uma mesa de restaurante, seja em rodinhas de amigos, seja para conduzir conteúdo de decoração. As escolas de samba são um inegável espetáculo da potência criativa do brasileiro, e as cores desta serviram para conduzir este tema.

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