Ao gênio Steve Jobs é creditada a frase que “...design é a alma fundamental de uma criação humana, que acaba se expressando em camadas externas sucessivas do produto ou serviço.” E ele foi um dos maiores fomentadores do design para uso cotidiano, criando uma cultura de design que fundamentou o século XX, perpassando até os dias atuais. Às vezes não nos damos conta da importância da dimensão do design em nosso dia a dia, mas ele está presente em tudo, desde nossos celulares (das quais não soltamos a mão, tornaram-se praticamente uma extensão corporal) até os mínimos detalhes de nossa existência. E os designers se esmeram em estudar formas, novos materiais, propor novas formas de enxergar um produto, não apenas em virtude de uma necessidade mercantil, mas também para exercer a própria criatividade. Exemplo – as formas contrastantes da poltrona Carybé na foto que abre este post, desenho de Ronald Sasson, do portfólio de produtos da Novo Ambiente. De conforto impecável, construção esmeradíssima, que chega a lembrar o melhor do mobiliário italiano, esta poltrona é de uma elegância absoluta, com essa “concha” que quase lembra um escorregador, apoiada nesta estrutura delgada em fina madeira torneada.
Recentemente tive a oportunidade de fazer um espaço com a cadeira acima, desenho de minha amiga Roberta Banqueri. E ver a cara de surpresa de um cliente que se sentou nesta cadeira, que literalmente balança (pois sua estrutura de assento está totalmente apoiada neste couro que pende dos braços), e que afirmou ser uma das cadeiras mais confortáveis que ele já havia sentado. Ela foi pensada para uso outdoor, mas pode facilmente estar em ambientes internos. Eu já a vejo em um escritório elegante, frente à uma mesa imensa, ou numa sala de jantar contemporânea. Tanto a cadeira quanto a mesa, desenho da mesma designer, estão no catálogo de produtos da Way Design. Vale muito a pena conhecer este produto e conferir não apenas seu desenho, mas – e principalmente – seu conforto.
A foto de meu amigo Denilson Machado evidencia as matérias primas e a organicidade presente tanto na poltrona PL 61 quanto na PL 13, ambas criações de Percival Lafer, e que provam que o bom design é atemporal. Estas peças, do acervo de produtos da Arquivo Contemporâneo, datam de 1963 e 1973 respectivamente, e apesar das décadas passadas desde sua criação, continuam extremamente modernas. Uma prova de que o bom design, aliado à qualidade, produz peças que perpassam tempos e tempos. Minha poltrona Charles Eames, cujo desenho data da segunda metade da década de 1950, é a prova disto. Já me acompanha há uns 30 anos, continua impecável, confortável e muito elegante.
Outro gênio – Antonio Citterio – enveredou para um campo totalmente contemporâneo do “seu” design habitual, ao desenhar este banco para a Technogym. Sua superfície em couro, com as laterais cromadas e pintadas, ocultam uma estrutura extremamente bem elaborada, pensada para um uso muito grande de exercícios físicos. CItterio nasceu em Meda, Itália, em 1950. Abriu seu próprio estúdio em 1972, e desde então tem desenhado produtos para as mais famosas marcas de artigos para casa, desde sofás, poltronas, luminárias, e uma linha de produtos para a Technogym de cair o queixo. Uma criatividade ilimitada, invejável.
Tenho profunda, profundíssima admiração pela arquiteta e designer ítalo-brasileira Lina Bo Bardi. Tive a honra de conhecê-la em uma palestra, décadas atrás, quando eu ainda era estudante de arquitetura. E a potência criativa desta arquiteta era empolgante, seus dogmas muito precisos, sua arquitetura seminal – e suas propostas para o design também. E a Lumini reeditou a luminária LBB01 (acima), desenho de Lina para sua casa, a denominada Casa de Vidro, em 1951.Uma proposta simples, sem firulas, seca – e profundamente equilibrada. Que originalmente foi desenhada com um tipo de lâmpada, mas que hoje pode receber as novas fontes de luz, que geram menos calor e gastam menos energia, com um resultado impecável.
Lançamento recente da Santa Mônica, o tapete Ará, da coleção Muiraquitã – que é um amuleto ancestral em formato de rã, e considerado poderoso contra malefícios. Design de Luiz Martins junto com a equipe de criação da Santa Mônica, propõe uma revalorização dos desenhos ancestrais, de forma simples, com esses elementos geométricos e cores contrastantes, e eu caí de amores pela peça acima. Primeiro, porque adoro tapetes. Segundo, as cores me encantam – principalmente essa linha azul que delimita essa forma circular. E terceiro – tapetes proporcionam mais conforto físico e acústico, e ajudam a delimitar um espaço de forma muito fácil, sem nenhuma complicação.
O desenho da poltrona acima me lembrou uma imensa castanha de caju. Mas, fora seu desenho lúdico e provocativo, esta poltrona oferece um conforto insuspeito. Se eu ainda fosse criança, e pequeno, eu gastaria horas deitado nesta poltrona, com as cabeças em uma das extremidades e os pés em outra, como fiz várias vezes com uma poltrona que deve ter inspirado esta. A poltrona Riso é de autoria do Studio Galho, e é uma exclusividade da Vivence.
Da última coleção da Artefacto, sob a batuta de Patricia Anastassiadis, destaco essa cadeira lindinha, delgada, delicada, em belo contraste com a robustez da mesa de jantar Circa. Há alguns anos a Artefacto tem Patricia como diretora criativa da marca, e sua última coleção explora uma maior organicidade nos produtos, com várias peças em madeira torneada, com desenhos bastante inusitados, e sempre extremamente bem executados.
A poltrona Cubus design de Sergio Batista para a Uultis, revela em seu nome a fonte de sua inspiração – a forma geométrica do cubo. Seus ângulos e faces se encontram em comprimentos idênticos, resultando em um design que harmoniza precisão e elegância. As poltronas sem braços – ou chauffeuse em francês – voltaram a frequentar os ambientes depois de muitos anos. São práticas, podem sentar duas pessoas ao mesmo tempo, e podem ser um coringa em qualquer living. A poltrona Cubus é elegância pura.
Se o tema é Design, não posso deixar de citar a cozinha Arco, desenho do multifacetado bureau Pininfarina. Segundo a Florense, que está fabricando e comercializando essa maravilha, a Arco é uma cozinha com essencialidade, inspiração na natureza e proporções perfeitas. Somadas a expertise da Pininfarina com a da Florense, o resultado só poderia ser este – uma cozinha que prima não apenas pela originalidade e desenho, mas principalmente pela proposta de uso e pelos acabamentos primorosos. Um luxo, realmente um luxo.
Mas engana-se quem pensa que o design está restrito às pranchetas dos grandes escritórios, cujos projetos racionais exigem muita inspiração e quantidades maiores ainda de transpiração. O Design pode se apresentar de forma autônoma, não erudita, espontânea – e a arte popular brasileira é um grande manancial destes conceitos. Eu escolhi para finalizar este assunto a escultura de Claudio das Miniaturas – como é conhecido Claudio Freire. Suas peças têm como tema principal o cotidiano das pessoas, sendo inspiradas no universo regional de Alagoas. Esta obra é uma representação maravilhosa da simplicidade e da autenticidade da vida no campo, e os detalhes e a proporção são obra de um olhar atento e uma manufatura preciosa – portanto, tem que ser valorizada, continuamente valorizada.
Alguém disse que o bom design vicia, porque dá bons resultados. Eu apoio esta frase incondicionalmente...