Foi informado que mais de 500mil pessoas apareceram em Milão, durante a semana de Design, que ia de 15 a 22 de abril último. Entre o Saloni – a mega estrutura projetada pelo escritório de Massimiliamo Fuksas – e o resto da cidade, mais de 450 eventos (faça as contas – 67 eventos por dia...)transformavam o mais ativo dos turistas numa versão contemporânea do coelho de Alice in Wonderland, sempre atrasado e sempre correndo para tentar ver o máximo de coisas possíveis. Às marcas poderosas do universo do design se juntam, cada vez mais, brands de outros segmentos, algumas cooperações interdisciplinares e mais uma pequena montanha de novidades, a maioria muito bem vinda. Mas, nem tudo são flores...
A SMEG, tradicional marca de artigos de cozinha, detentora dos fogões mais caros e desejados do planeta, fez uma colaboração com a Dolce&Gabanna, em uma linha intitulada Sicily is my Love. Fogões, geladeiras, cafeteiras, torradeiras, cafeteiras, tudo estampado com a feérie típica da marca D&G. O resultado beirava entre o divertido e o assustador. Claro que os preços desta linha serão mais altos do que o resto, face ao co-branding entre as marcas. Um exercício de estilo de gosto suspeito, mas que certamente fará a cabeça de muitos “fashion addicteds”.
A Louis Vuitton continua com sua série de produtos chamada Objets Nomades. Em um belíssimo espaço, de cenografia primorosa, móveis e objetos desenhados pelos irmãos Campana, por Marcel Wanders, por Patricia Urquiola, Atelier Oï, India Mahdavi e outros. A precisão da manufatura desta veneranda marca era visível, reforçada por peças bastante originais.
Um teto de flores de couro recebia os visitantes na segunda sala da exposição LV
O sofá dos irmãos Campana
Vaso dos irmãos Campana
A Hermés selecionou um grupo de rapazes altos trajando imensos foulards e lenços da marca para ficarem nas muitas portas da instalação que fez para lançar seus produtos. Um banco de bambu, projeto do português Alvaro Siza, se tornou meu novo objeto de desejo. Em um cenário impactante, vasos de porcelana e objetos mesclando couro com junco passavam uma mensagem de exotismo folk, reforçado pelas maravilhosas mantas típicas da marca, tingidas nas cores primárias, com belíssimo resultado.
Altíssimas estruturas revestidas em cerâmicas de cores intensas compunham a cenografia da Hermès.
Um pedacinho do banco de Alvaro Siza, os tecidos da coleção ea manufatura do couro em objetos impecáveis.
As mantas delicadas e mais objetos em couro lindamente executados.
Uma das mais sofisticadas marcas da moda também fez bonito, com uma coleção pequena e impecável. A Bottega Veneta reforçou sua manufatura de altíssimo quilate em móveis de couro apresentados em um pequeno palácio, em matizes suaves e brancos inquietantes. Preciso e precioso.
Nem todo mundo que se dá bem na moda se dá bem no design, claro. O mestre das estampas Roberto Cavalli apresentou sua coleção Home em um stand na Fiera onde o verde elétrico era a tônica, com resultado assustador, apesar da inequívoca qualidade de execução.
E a Prada arrasa em sua Fondazione Prada, um complexo dedicado à arte contemporânea que exibia filas imensas sob o sol que castigava Milão, para ver a arquitetura do novo prédio – a torre branca, meio em zigue-zague, assinatura do estrelado arquiteto Rem Koolhaas, parece se debruçar sobre o resto do complexo. Foi cenário de inúmeras selfies durante a semana, e este pareceu ser o palco perfeito para as tribos de orientais descoladíssimos trajando as mais famosas grifes.
As grife de de moda não dominaram o cenário do design em Milão, mas fizeram bastante barulho. E prometem repetir esta performance cada vez mais, espantando os rumores da crise européia. É pagar (caro, em euros...) para ver.
Wair de Paula, Jr.