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"FUN-NITURE"

Wair de Paula, Jr.


Eames Elephant, 1945

Em primeiro lugar, não resisti ao infame trocadilho – a junção do termo “fun” (divertido) com “furniture” virou o pequeno Frankenstein do título, mas está dentro do espírito deste post – móveis, acessórios e objetos da casa que podem aparecer sob o conceito do humor. Um dos mais icônicos móveis já desenhados dentro desta vertente é fruto da imaginação delirante não de um designer ou decorador, mas de um artista plástico – Salvador Dali. Seu “May West Lips Sofa”, teoricamente inspirado nos lábios da famosa diva do cinema norte-americano May West, data de 1938, e hoje é alvo de disputa de colecionadores.

A maioria dos designers e/ou criadores neste campo se preocupam com a função do produto –seu uso, ergonomia, durabilidade, etc. Mas, graças aos deuses do livre arbítrio, sempre tem alguém que subverte – ou simplesmente ignora – estas regras, e vez ou outra podemos encontrar um típico exemplo do “fun design” em peças absolutamente sem função prática, mas de alto teor de humor ou crítica. Um bom exemplo disto é a “Bad Table” de Judson Beaumont, um misto de mesa de centro, escultura e cachorro malcriado.

 
As vezes esta vertente pode gerar produtos com um pé no kitsch – vide a Paint Drip Table de John Nouanesing.


Outras vezes, os produtos são desenhados com um nicho específico – no caso, crianças. Mas seu design encanta marmanjos e adultos de todas as idades, como a super conhecida (e ultra copiada) Puppy Chair, de Eero Arnio, desenhada em 2005.
 

Os arquitetos e designer brasileiros já descobriram este filão, e alguns produtos já nasceram com jeito de “must have” (odeio este termo, mas se adequa perfeitamente). O designer/arquiteto Jayme Bernardo tem uma linha de móveis com sua assinatura de excepcional qualidade de desenho. Mas uma peça de seu portfolio eu sinto que preciso ter em minha casa – os banquinhos e/ou mesas laterais Toy. 
  

São lúdicas, divertidas e absolutamente usáveis . E quase indispensáveis para mim...rs
Outro brasileiro que sabe lidar com estas questões – humor e fator surpresa – é o designer Henrique Steyer. Suas peças já estão presentes em projetos ao redor do mundo, e é fácil entender o porquê – elas mexem com proporções e lembranças. E são extremamente bem executadas, fator fundamental.
 

Acima, a coleção de estantes Niño,  e abaixo, a mesa lateral Macaco, ambas de Steyer.
 

As vezes, uma composição padrão pode gerar um exemplar desta corrente de “fun design” – é o caso das estantes abaixo, uma disposição de formas geométricas dispostas de forma inteligente e absolutamente original.
 

E não poderíamos esquecer da mais famosa dupla de designers do país – os irmãos Campana, cujo design é altamente reconhecível e cuja estética é copiada por inúmeros criadores em todo mundo, com sua estética não racional e uso indiscriminado de matérias primas das mais diversas. Todo mundo conhece a série de poltronas feitas com bichos de pelúcia desta dupla, objeto de desejo de 9 entre 10 jovens endinheirados. Pelo fato de ser imediatamente reconhecível, esta poltrona confere ao seu proprietário o mesmo status que outras peças de marca causam, como uma bolsa de grife ou um carro de luxo.


As vezes o design divertido pode provocar um pouco mais de estranheza, como é o caso destas estantes dos Campana:
 

e eu me pergunto como estas peças sobreviverão ao futuro dentro de casa – o uso constante, manutenção e outras características do cotidiano as vezes exigem materiais e/ou desenhos menos ousados. Mas, ao mesmo tempo, é legal ter dentro de casa um produto que remete diretamente às tardes infantis, lembrando de um personagem que, provavelmente, inspirou esta série de móveis:
 

Uncle Itt, da Família Addams...
 

j. wair de paula jr
 

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