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Quitandinha

Wair de Paula, Jr.

Construído em 1944 para ser o maior hotel cassino da América Latina, o Hotel Quitandinha já passou por altos e baixos, mas foi construído com arroubos e pretensões gigantescas, e recebeu em seus salões personalidades como Orson Welles, Henry Fonda, Greta Garbo, Walt Disney!, Carmem Miranda (que devia ter muita identificação com o décor deste local), Evita Perón e várias outras. Sua arquitetura mescla o normando-francês (externamente) – um estilo bastante presente na arquitetura de Petrópolis, devido à colonização alemã – e internamente apresenta um rococó-hollywoodiano de impressionante visual, obra da norte-americana Dorothy Draper. Reza a lenda que, na construção do lago em frente ao hotel, foram usadas algumas toneladas de areia da praia de Copacabana...
Seus mais de 45mil metros quadrados, originalmente divididos em 440 apartamentos e 13 salões de pé-direito altíssimo, hoje partes deste complexo (os salões sociais, a sala de música e teatro) abrigam a unidade Sesc Quitandinha.


 
Em maio de 1946, o então presidente Eurico Gaspar Dutra decretou a proibição do jogo no Brasil, provocando o início das dificuldades de operação do Quitandinha : seu alto padrão exigia altos custos, que eram repassados aos hóspedes. Mas, sem o cassino, o hotel começou a perder para concorrentes da época, e em 1962 o Quitandinha deixou de funcionar como Hotel. 


 
Sua decoração é o que antigamente se denominava “um must”. A idealizadora desta decoração, Dorothy Draper, foi uma das primeiras decoradoras de sucesso na história. Sua estética era exuberante, sofisticada e glamurosa, com toques de excentricidade e uma cuidadosa mistura de cores. 


 

Os pisos em padrão xadrez preto-e-branco, os revestimentos de gesso bastante decorados, os imensos puxadores e tetos trabalhados e aquela noção de cenário de filme fazem do Hotel Quitandinha um exemplar único no país. 


 
Em alguns aspectos, podemos ver um paralelo entre o trabalho de Dorothy neste hotel, e os elementos estéticos utilizados pelo über-arquiteto-designer Philippe Starck – Miss Draper, assim como Starck, sabia trabalhar muito bem as proporções de móveis e objetos com o intuito de causar impacto.

Precursora, lançou em 1939 o livro Decorating is Fun!, e neste , pregava a máxima de que a decoração pressuponha audácia, risco e diversão, pois afirmava odiar o excesso de rigidez e seriedade no décor.
O livro “In The Pink”, de autoria de Carleton Varney, que era amigo de Dorothy e é presidente da Dorothy Draper & Co. Inc., conta a história desta mulher visionária, e é uma pequena master class de como ter um estilo próprio e ousado, na contra-mão das tendências vigentes. Ousada, vanguardista, e, como diríamos hoje, empoderada.

Então, aproveite estes dias em que 2018 ainda não começou totalmente, e dê um pulo em Petrópolis, para ver esta pequena jóia da decoração, este cenário que é a prova viva de que, em alguns aspectos,  os  tempos já foram mais ousados.


Wair de Paula, Jr.

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